Fuga de cérebros

Tenho sido uma das pessoas que se preocupa com o desenvolvimento deste país. No meu canto, sem incomodar alguém, contribuo com o que puder, tanto em ideias como em actos para mudar o actual espectro nacional. Aliás, como cidadão que sou, tenho essa obrigação. A pobreza que se reflecte por quase tudo o que é canto, desde as universidades à vacuidade das consultorias e Assistências Técnicas, têm sido o meu maior motivo de vida.

Hoje, podemos nos orgulhar de termos formado o minimamente aceitável para podermos pensar por nós próprios. Podemos dizer que temos cérebros que brilham lá fora. A eleição em tempo recorde de 3 moçambicanos para cargos da diplomacia internacional assim o atesta.

Estou a falar de Hélder Muteia, Firmino Mucavele e Joaquim Chissano. Não quero e nem vou falar de Chissano. Quem sou eu para dele dar palpites, se apenas dos seus feitos me congratulo, ficando a lhe dever a vida!? Falo eu de outras pessoas, ordinary people, como diriam os ingleses.

No jargão da indústria de desenvolvimento, mas principalmente no seio dos dependentistas, acredita-se que uma das causas do subdesenvolvimento em África, Ásia e America Latina tem a ver com a fuga de cérebros. Argumentam, com dados fortes e inquestionáveis, que a fuga de cientistas sociais e físicos e económicos faz com que a África fique desprovida de pessoas que possam traçar linhas de desenvolvimento viáveis, baseadas na experiência local e de vida. Assim, continuam, a África fica mais uma vez dependente da “ajuda do pensamento externo”, acabando por acolher um conjunto de ideias alheias a sua realidade. Estes dependentistas são de opinião de que se imponha uma taxa ou barreira não tarifária aos cientistas que pretendam sair dos seus países ou que no mínimo, as instituições para as quais vão trbalhar prestem algum pagamento aos países donde estes vêm.

Concordando ou não, não é esta a minha questão. É que este debate levou-me à uma reflexão sobre três questões: (1) quem é cérebro? O que significa esta palavra? O que faz, onde trabalha este cérebro? (2) Como é que foge e (3) Porquê foge?.

A nomeação de Hélder Muteia, Firmino Mucavele e mais um outro Juiz para o tribunal da SADC faz-me concuir que:

Os cérebros são os nossos irmãos que, depois de derrotá-los, não queremos conviver com eles. Os cérebros são aqueles que andamos a acusá-los de terem deixado andar. Os cérebros são aqueles que, sabendo algo, e estando em altura de prestar alguma contribuição, não o fazem porque não são acarinhados, nem são ouvidos nem achados. São aqueles que sabendo algo, são negligenciados e acusados de “já terem comido”; «agora é nossa vez, vocês já comeram».

O cérebro é aquele que, pedido por um jornalista para comentar ou dar a sua opinião sobre algo provoca sururu, alegadamente por não ter correspondido com o convenientemente correcto.

O cérebro não é gostado. O cérebro incomoda. Em Moçambique os cérebros devem se encurralar na Universidade e deixar os políticos na políticas!

Se Carlos Cardoso fugisse para Suiça e de lá escrevesse sobre Moçambique, seria considerado cobarde. Alguns diriam: «seu cobarde, não dê paplites de longe, vem pra Moçambique e deia a sua mão». Mas ele não o fez.

Cérebro que foi, lutou, opinou, criticou e sugeriu. Resultado: mataram-lhe.

Se Siba-Siba Macuácua recusasse o cargo de PCA interino do Banco Austral a pretexto de incapacidade, os amigos o apelidariam de cobarde. Ele com coragem trabalhou, andou atrás de devedores e resultado: mataram.

Felizmente, o cérebro também sabe ver onde é que ele pode ser morto e onde pode trabalhar livremente. A direfença que existe entre Muteia e Cardoso, por exemplo é que Muteia não é corajoso, mas é cérebro. Nem todos cérebros são corajosos.

Muteia, Mucavele e outros “fogem” para o exterior porque sentem-se ainda úteis para mais alguma coisa; sentem que ainda querem dar uma mão à humanidade e preferem fazerem-no fora do país.

A propósito, valeria a pena Muteia ficar em Moçambique para à niote, todas 20.00 horas assistir às acusações de que foi deixaandarista, ao ter permitido o açambarcamento de carros pelas mãos impróprias? Valeria a pena, pergunto.

Portanto, se há motivos profundos do subdesenvolvimento dos africanos, dentre esses, não podemos descurar a inveja; gula; cobiça; espírito de revanchismo; cagúfia, enfim, ignorância e gulosisse.

É...isso mesmo, os gulosos estão sempre em desconfiança quando estã a mesa. Por isso têem mesas com gavetas, como é o caso dos alentejanos! Bastam ouvir barulho lá fora, logo apreçam-se em meter os pratos nas gavetas e tudo volta ao ponto zero! Como se nada tivesse acontecido.

Africanos irmãos, se queremos desenvoolver, criemos espaços para que os que nos antecederam possam se sentir úteis e assim poderem transmitir as suas experiências. Não basta mudar. É preciso inovar. E inovar não é multiplicar discursos geniais! É produzir impacto no que se diz.

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