Combates pela mentalidade histórica

O título acima constitui uma paráfrase ao famoso (e se calhar o mais vendido) livro do Professor Catedrático moçambicano, Carlos Serra (Combates pela mentalidade sociológica).
A partir de hoje e ao longo do próximo mês, e como devereis ver nas palavras de dentrada deste blog (vide, está tudo alterado), começarei a postar textos não da minha autoria, mas de autores concujos ideais partilho. O objectivo é único: lutar pela desconstrução da monocultura do saber capitalista neoliberal que domina a nossa contemporaneidade para assim, lançar pistas para um mundo alternativo, que é bem possível, mas acima de tudo, contribuir para UM Moçambique alternativo; uma espécie de apelo à emancipação social, um prjecto quanto a mim, abandonado em 1987, com a entrada de dois bárbaros no nosso país: FMI e Banco Mundial na companhia de alguns estados hegemónicos ao seu colo.
O texto que se segue é do Professor Emir Sader e pode ser acedido através deste link.


Cuba antes de Fidel

Em 1989, acreditando que o efeito dominó chegaria ao Caribe, toda a imprensa internacional – inclusive a equipe da TV Globo – foram a Havana, se instalaram no Habana Libre – crendo que voltaria a se chamar Habana Hilton -, para esperar, em frente ao Malecón, que caísse o regime socialista. Afinal Cuba só existia e sobrevivia, em meio a uma miséria que a imprensa ocidental caracterizava como infernal, com uma ditadura que faria da Ilha um “goulag tropical”, devido à ajuda soviética. Quando a URSS, o chamado “campo socialista” e a economia internacional planejada de que fazia parte Cuba, desapareciam do dia para a noite, como efeito de carambola, o socialismo tropical daria lugar ao retorno dos exilados de Miami e tudo voltaria a ser como nos tempos de Batista.


Naqueles tempos, Cuba era o “pátio traseiro” dos EUA, o itinerário preferido das férias dos estadunidenses, de locação dos filmes melosos de Holywood, dos cassinos onde os gangsters do norte estabeleciam suas ramificações mais sujas. A ponto de que, no final da segunda guerra, depois que a máfia italiana ajudou os “defensores da democracia ocidental” a desembarcarem na Sicília para derrotar o regime fascista de Mussolini, os capos realizaram uma espécie de congresso internacional no Hotel Nacional, em Havana, para reorganizar seu lucrativo comércio em escala internacional, redividindo os novos mercados e acertando suas diferenças. Al Capone, doente, não pôde comparecer, mas todos os outros estavam ali. Chamaram um jovem e promissor cantor branco estadunidense, chamado Frank Sinatra, para que cantasse para eles. Durante o congresso houve uma greve dos funcionários do hotel, por atraso no pagamento dos funcionários. Os mafiosos quitaram todos os salários atrasados e a paz social voltou a reinar no hotel, que foi visitado pelo então presidente de Cuba, para congratular-se com aquele evento internacional de prestigiosos empresários ligados ao grande vizinho do norte.


O primeiro vôo internacional da Pan American (se lembram dela?) foi para Havana. Os novos modelos de automóveis estadunidenses eram primeiro testados no “pátio traseiro”. Os marinheiros dos EUA se comportavam em Havana como se o país inteiro fosse um “prostíbulo” – conforme as belíssimas descrições dos poemas de Nicolas Guillén. Um vasto plano de construção de uma rede de hotéis, conectados diretamente com cassinos e prostituição, estava pronto para ser colocado em prática, com recursos que incluíam participação de gente como Richard Nixon, o próprio Sinatra, entre outros.

“Y en eso llegó Fidel/Se acabó la diverson/Llegó el comandante y mandó a parar” – como passaram a cantar os cubanos por lá. Não poderia deixar de ser, a partir dali, a vítima preferida do ódio dos yankees. Ainda mais quando, acreditando nas suas lendas, pensaram que poderiam derrubar o novo regime, com a invasão de Baia dos Porcos, que contaria – segundo a imprensa “livre” do norte – com a vontade de sublevação, para se tornarem de novo “livres”, do povo cubano. A aventura agressiva durou 72 horas, o povo se levantou, sob a direção de Fidel, mas contra os invasores, Cuba se declarou socialista, os presos estadunidenses foram humilhantemente trocados com o governo de John Kennedy por remédios e compotas para crianças.

Em “Little Havana”, do outro lado do oceano, se refugiaram os burgueses e contra-revolucionários derrotados, a curtir suas amarguras, a votar pelos republicanos, a sonhar com um passado que não volta mais, a acordar com pesadelos de que o socialismo cubano veio para ficar. Dez presidentes dos EUA disseram, sucessivamente que iam derrubar o regime cubano, todos se foram embora derrotados, sem pena nem glória.

Cuba socialista e Fidel, sobreviveram a tudo e a todos. Centenas de atentados foram realizados, mas aí também fracassou o império. Até o fim do campo socialista foi superado por Cuba. Os recentes acordos estratégicos com a Venezuela e a Bolívia, no marco da Alba, os acordos com a China, a descoberta do petróleo em Cuba, fazem com que o regime se consolide ainda mais, supere as dificuldades do chamado “período especial”, desde o fim da URSS e retome os avanços para a construção do socialismo.

Assim era Cuba antes de Fidel. E assim ficou com Fidel: o único país do mundo em que não há ninguém abandonado, sem proteção social, dormindo nas ruas. O primeiro pais do mundo a terminar com o analfabetismo. O único país do mundo que pode se orgulhar de ter um mínimo de 9 anos de escolaridade para toda sua população. O único que tem um sistema de saúde universal, que atende gratuitamente a toda sua população, com a melhor saúde pública do mundo. O país que desafiou o império a pouco mais de 100 quilômetros da maior potencia bélica da histórica da humanidade, afirmou sua soberania e sua vontade de construir uma sociedade justa e solidária – uma socialista anti-capitalista, uma sociedade socialista.

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