Não alinhados reorganizam Sul do mundo

Na passagem do mundo bipolar para o unimultipolar, desapareceu o “terceiro mundo” - , não apenas porque o segundo o havia feito. Mas porque a globalização reinstarou uma nova ordem mundial. E que comanda um processo, detendo o poder, atribui a cada peça seu lugar na totalidade do sistema, assim como dá nome às coisas. Da mesma forma, desapareceram os "não alinhados", porque alinhar-se passou a ser estar alinhado com o mercado, isto é, com a modernidade, o progresso, o dinamismo - em suma, o futuro.
A globalização neoliberal impôs um novo léxico, que corresponde ao novo fluxo do capital e da dominação em escala mundial. Países avançados e atrasados, globalizados e enfeixados (ainda) nos marcos nacionais, desregulamentados e "protegidos", aderidos ao livre comércio ou marginalizados do comércio internacional. Como se queria chamar, são novas denominações para a dualidade civilização ou barbárie, que preside o capitalismo ao longo de toda sua existência.
O grito de Chiapas em 1994, a explosão de Seattle em 1999, a existência dos Foros Sociais Mundiais desde 2001, entre outros, começaram a delimitar espaços distintos na nova geopolítica do poder. Davos e Porto Alegre, globalizadores e globalizados, Alca e Mersocul e SADC, NEPAD. O grupo dos 20, formado na reunião da OMC em Cancun, representou a reaparição da organização dos paises do Sul do mundo. A reunião dos Não Alinhados em Havana é outro passo nessa direção.
Qual o sentido de reunirem-se paises como a Índia, a China, o Brasil, o Irão, a Venezuela, a África do Sul, entre tantos outros, em um total de centenas de governos? Estado todos situados no Sul do mundo, são objeto da globalização neoliberal, não a comandam, a sofrem.
Seu polo oposto são a OMC, o FMI, o Banco Mundial, o auto-proclamado grupo dos "grandes" - todos colonizadores e imperialistas em sua trajetória e no seu presente. O eixo dessa reorganização dos países do Sul têm sido a América do Sul - com um papel primordial, em diferentes níveis, do Brasil, da Venezuela e de Cuba - e com participação efectiva da Índia, da África do Sul e do Irão.
A reunião recém concluída em Havana foi um enorme sucesso de participação, com mais de 50 primeiros mandatários de países do Sul do mundo. Cuba apresentou uma proposta de que o tipo de comércio que desenvolvem com a Venezuela seja estendido ao restante dos países do Sul, isto é, um tipo de "comércio justo" - como o denomina o Fórum Social Mundial, em que cada país troca aquilo de que dispõe em troca do que necessita, independente do preço no mercado internacional.
Somente o fato de colocar em discussão essa forma alternativa aos critérios da OMC já mudou a pauta da reunião, que fugiu das simples discussões sobre livre comércio, protecionismo, etc. Desenha um campo governamental de ação e de questionamento que define um novo campo de ação e um novo temário de luta para a construção de um outro mundo possível.
A declaração final corresponde ao alinhamento claro de resistência à hegemonia imperial estadunidense e sua política de "guerra infinita", assim como pela solidariedade com os governos mais diretamente atingidos por ofensivas políticas, militares e midiáticas, como o Irã e a Bolívia. A presidência de Cuba garante que essa orientação primará na reconstrução do Movimento de Países Não-Alinhados, reafirmando o não alinhamento com os EUA e suas políticas de livre comércio e de militarização dos conflitos em escala mundial.

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