Pensamento linchador

O Professor Carlos Serra escreveu este artigo, se bem que provisório para, numa primeira fase explicar o fenómeno dos linchamentos na Cidade de Maputo. Recomendo a todos que o leiam.
Mas o que amanhã irei fazer neste espaço será tentar enquadrar o seu marco conceptual num comportamento que amiúde deixa-me bastante degradado. Um comportamento desatento que à todo custo busca causas; prevê efeitos e avança soluções perante assuntos, situações ou factos cujos sujeitos mal conhecem ou se o fazem, superficialmente.
Carlos Serra chamou à isso de pensamento 4x4, ou seja, pensamento à todo o terreno. Numa outra altura, apelidou-o de pensamento circular, pois o motivo de um determinado facto se explica pelas suas próprias consequências.

Macamo já escreveu um livro sobre Moçambique cujo título genérico era Um país cheio de soluções.
Por outras palavras, quero, e aproveitando o quadro teórico do Professor Serra argumentar que nos dias que correm existe em Moçambique e nos meios académico e político, um pensamento linchador. Um pensamento caracterizado pela busca forçosa de soluções à problemas cuja natureza desconhecem.

Aliando a lógica federadora à teoria de conspiração, buscam as causas dos seus insucessos noutras pessoas ou noutras causas. Foi o caso do Ministro da Educação que divide a ciência em duas: a que sabe fazer e a que não sabe ou a que apenas sabe. Vide isto aqui, no Blog de Patrício Langa. Para este dirigente, o problema de Moçambique reside no facto de ter muitos que apenas sabem mas que por natureza da sua formação, não sabem fazer algo que alivie a pobreza absoluta em Moçambique; referindo-se claramente aos cientistas sociais.

Para sanar este problema e segundo o Ministro, deve-se potenciar agora, cursos do ensino superior que formem técnicos para solucionar os problemas concretos do país; como sendo, a produção animal e agrícola, a produção da tecnologia e por aí fora. O novo Reitor da UEM lhe seguiu as peugadas reiterando o mesmo no ano da abertura do ano académico.

Como bem disse Macamo, a má identificação de um determinado problema implica por sua vez, uma má solução. Esquartejam-se as pessoas, os cursos, as ciências; sacrificam-se no altar da ignorância os que, com o seu saber, também poderiam prestar um contributo imenso à reflexão dos problemas da nação e possivelmente a sua solução.

E nós, linchados, que fazer? Persistirmos, dizendo que ainda somos válidos ou vergarmos perante o chefe, elevando mais alto o nosso não saber fazer. Aliás , e como bem disse PL, eles é que não sabem o que fazer e não nós.
Até amanhã.

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