25 de Abril de 1974

Portugal, tal como os países que outrora colonizou, lembram hoje a passagem de mais um aniversário da queda do regime fascista de Marcelo Caetano. Foi no dia 25 de Abril de 1974 que o Movimento de Forças Artmadas, derrubou o então regime ditatorial de Marcelo Caetano, legado de António de Oliveira Salazar, este, que infelizmente coube-lhe o título de Grande Português de sempre, através de um concurso televisivo da RTP.

O derrube deste regime teve dois significados, quanto a mim, inportantes:
O primeiro, demonstrou ao Mundo, a insustentabilidade de regimes autocráticos, ditatoriais e militaristas. Ao mesmo tempo, a vitória sobre os fascistas deixou sem argumentos àqueles que pretendiam manter a colonização sobre os territórios ocupados por Portugal. Dentre eles, podemos salientar o General António de Spínola.

O segundo significado, militar, foi de que os militares portugueses mostraram claramente aos seus líderes quão injusta era a Guerra que faziam nos territórios sob sua ocupação. Ao assim procederem, abriram caminho às negociações de Paz e Cessar Fogo com os diversos movimentos políticos nacionalistas que na altura combatiam o colonialismo nos respectivos territórios. Daí, compreender-se, por exemplo, as rápidas negociações de paz e cessar fogo com a Frelimo (Moçambique) logo a seguir ao Golpe de Estado.

Actualmente, existe uma tendência (eivada de má fé, diga-se) de se fazer um aproveitamento político acerca deste acontecimento: do lado português, existe uma tendência de justificar o 25 de Abril como sendo responsável pela descolonização de países africanos de língua oficial portuguesa, querendo com isso dar a entender que foram os portugueses (os bons portugueses, diga-se) que "facilitaram" as independências das colónias portuguesas. Para esses historiadores e políticos, foram os portugueses que tiveram a iniciativa de devolver a independência aos africanos para entre eles se governarem. Se não houvesse o 25 de Abril, dificilmente Portugal teria abdicado delas.

Para a Frelimo, os movimentos de libertação nacional ganharam a guerra, livre e independentemente do 25 de Abril. Aliás, o 25 de Abril é de per se, sinal inequívoco da derrota das Forças Armadas Portuguesas. Portanto, a Frelimo chama a si o mérito de, através das armas, ter conseguido desnortear e desmotivar as forças armadas portuguesas de tal maneira que tiveram que Golpear o seu próprio Estado para se livrarem da Guerra!

Ambas as posições estão, quanto a mim, incompletas. Se por um lado devemos aceitar que o 25 de Abril "precipitou" a iniciativa portuguesa nas negociações de cessar fogo e independência de Moçambique e outros PALOP, por outro devemos reconhecer que sem ela, a independência iria chegar. Tarde ou cedo. Por outro lado, imoprta salientar que em termos meramente militares e de ocupação territorial, a Frelimo foi o movimento armado mais fraco na história militar de Moçambique. Gungunyana ao sul ou Macombe Hanga ao centro do País (sec. XIX) tiveram tanto sucesso miliatr (no campo de batalha) contra os portugueses do que a Frelimo. Durante os dez anos de luta armada, a Frelimo tinha garantido a sua presença efectiva, em apenas parte das cinco províncias do centro e norte do país, nomeadamente o Planalto de Mueda (Cabo Delgado) e outras localidades da Província; Matchedje (Niassa) e outras bases do "interior" de Niassa, parte setenrional da Província de Tete, como Zumbo, para além de actos de sabotagem à parte meridional do actual Distrito de Cahora Bassa.
O resto do país, não passava de actos de reconhecimento, sabotagem e espionagem. Houve, na última etapa da guerra alguma presença no sul de Moçambique, mas que não passava de bolças de resistência e, sobretudo, de informação e recrutamento de mais aderentes à ela. Comparativamente, a Renamo chegou a controlar dois terços do país, tendo estendido a guerra à nível nacional! Até 1991, a guerra roçava os bairros da Costa do Sol em Maputo.
Portanto, custa-me acreditar que a Frelimo teria ganho a guerra, se Portugal quisessse continuar com ela. Pelo menos, sejamos sinceros, precisariam de mais uns 8 anitos! Mas isso nunca deve tirar mérito à coragem e determinação dos militares da Frelimo.
Aos políticos e historiadores portugueses, saibam que a independência do povo moçambicano não foi fruto do "sacrifício português" materializado no 25 de Abril de 1974. Foi, isso sim, fruto de uma luta armada desencadeada para alcançá-la, seja à mesa de negociações, como acabou por acontecer, seja por via meramente militar, através do assalto final ao Quartel General das Forças Armadas Portuguesas estacionadas em Lourenço Mareques. Isso, um dia tinha que acontecer.
Aos moçambicanos e portugueses, o meu grande abraço e boas festas.
À alma do Capitão Salgueiro Maia, vai o meu grande reconhecimento, com desejos de que a sua alma descanse em Paz.
Viva Moçambique!

Comentários

ilídio macia disse…
Caro Egídio, muito obrigado pela aula que me deste. Recordo-me duma entrevista em que o saudoso Presidente Samora Machel dizia que a independência de Moçambique não resultou do 25 de Abril de 1974. Este, o 25 de Abril, é que era consequência da intensa luta de libertação nacional levada a cabo pelos moçambicanos e outros povos colonizados pelo regime fascista português. Caro Egídio, por favor desenvolva-me mais esta questão. A afirmação do Presidente Samora Machel é bastante interessante. Só que estou desprovido de instrumentos analíticos para discutir os possíveis contornos da mesma. Assim por alto, quer me parecer válida aquela afirmação. Mas prefiro lançar a bola para o teu campo!
Papoila disse…
Obrigada pela visita!
Uma licção de história que deve ser conhecida... Magnífico artigo.
Beijo
Anónimo disse…
Em relacao ao 25 de Abril recordo-me de ter acompanhado pouco tempo atras um debate sobre o qual girava a questao de se celebrar ou nao esta data nos PALOP. Uns defendiam que o "25 de Abril" foi um evento decisivo para as independencias das colonias - dai que se devesse celebrar a data nos PALOP; outros defendiam que o 25 de Abril teria sido apenas um catalizador, no sentido de que mesmo que nao de imediato apos o golpe, as independencias teriam vindo dadas as lutas dos movimentos de libertacao. Nao me recordo quem defendia que posicao (muitas outras ideias foram apresentadas) mas me recordo que o Soc. Elisio Macamo era um dos intervenientes, se bem me recordo tambem a Fatima Ribeiro(e' esse o apelido?). Seria interessante voltar a ler a opiniao do ESM a volta deste debate.
Egidio Vaz disse…
Cara S[ónia] Muchate (por favor, se não é a momçambicana "na china", diga e, desde já, peço sinceras desculpas"),
Caro Ilídio,
Obrigado pelos insumos.
. O Golpe de Estado de 25 de Abril tem um enorme significado para Portugal. Trata-se do dia em que Portugal restaurou a sua democracia. Se se lembram, muitos opositores ao regime salazarista e depois marcelinista tiveram que se refugiar ou para França,como o caso de Mário Soares e Álvaro Cunhal ou outros países da Europa e América. A restauração da democracia possibilitou o regresso desses mesmo no dia seguinte, como aconteceu com Mário Soares. Portanto, na agenda dos "capitães de Abril" e políticos da altura, quando falavam da LIBERDADE queriam estritamente referirem-se aos portugueses. A questão colonial estava completamente à parte. Não constituia prioridade,nenhuma como aliás, Spínola mais tarde deixava entender. EM resumo, o "25 de Abril" foi para os portugueses, o dia da sua liberdade e da restauração da democracia portuguesa. TODAVIA....
Se observarmos o contexto internacional, podemos ver que o colonialismo estava a ser severamente criticado e ao mesmo tempo desautorizado. Tanto na ONU (Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos chegaram de discursas na Assembleia Geral da ONU quando Guiné e Moç, estavam em plena guerra de libertação)como a OUA já reconheciam a legitimidade dos movimentos de libertação nacional.
"Não estava na moda" colonizar o outro. Assim, Portugal sofria prerssões vindas tanto da ONU como do interior das colónias.
Mas atenção:
Não quero com isso dizer que não houve resistência e solidariedade dos portugueses para com a questão colonial. Pura mentira.
Partidos como PCP e MUD-Movimento da Unidade Democrática bem como seu braço juvenil MUD-Juvenil prestaram um grande apoio aos nacionalistas dos PALOP. Pascoal Mocumbi, Jáquim Chissano, Hélder Martins, só para citar alguns, forma dos que beneficiaram dessa ajuda e solidariedade tanto durante o tempo em que estiveram em Portugal como aquando da sua fuga para Suíça, via Espanha.
O 25 de Abril foi sim uma soberba ocasião, encontrada pelos movimentos nacinalistas como a Frelimo para pressionar o recém instalado Governo ir à mesa das negociações. Aliás, cá entre nós, a guerra de guerrilha alguma vez venceu um estado? Nunca. A guerra de guerrilha tem como objectivo final levar o Estado à mesa de negociações. Dada a sua natureza (cansativa, imprevisível e assaz destruidora como todas) a guerrilha não pode vencer nenhum estado. A Renamo que o diga.
Portanto, deixe-me resumir:
1. O 25 de Abril foi uma boa oportunidade para os movimentos nacionalistas negociarem os termos do cessar fogo.
2. A Frelimo não ganhou a guerra. A vitória da Frelimo foi de ter proclamado a Independência e nunca de ter ganho a luta armada. Afinal, digam-se, QUANDO É QUE SE DIZ QUE ALGUÉM GANHOU A GUERRA?
3. Houve condições internas que contribuíram para que a guerra colonial fracassasse (desde a estratégia de guerra adoptada pelo Governo colonial[guerra de contra subverção até a estratégia do same element] como sendo o cada vez fraco apoio popular, as pressões internacionais, incluindo as sanções e bloqueio económico até ao morticínio da Guiné Bissau.
4. nem a Frelimo nem o Governo portugues podem se arvorar de arquitectos das independências. A independência em Moçambique e nos PALOP são fruto de circunstâncias próprias que os nacionalistas souberam capitalizar em benefício próprio. E os portugueses também.
E não venham me dizer que foi Mário Soares. Lembram-se o que disse aquando da primeira ronda negocial (em tanzania?)
Dirigindo-se a delegação da Frelimo (1974, st.) disse:
Mas vocês, o povo de Moçambique não vos conhece! Andam a chamar-vos de turras. A nossa proposta é de fazermos um referendo para saber se os moçambicanos querem a autodeterminação ou não! Fim da citação.
Voltarei.
ilídio macia disse…
Caro Egídio, em resposta à minha preocupação disse algo interessante e ao mesmo tempo criou-me outra preocupação. Passo a citar uma das suas frases:
"A Frelimo não ganhou a guerra. A vitória da Frelimo foi de ter proclamado a Independência e nunca de ter ganho a luta armada. Afinal, digam-se, QUANDO É QUE SE DIZ QUE ALGUÉM GANHOU A GUERRA?"
A vitória foi apenas de ter proclamado a independência? Será mesmo? Explique-me, caro Egídio! Estás a trazer questões bastante interessantes, meu caro. "Mexa" um pouco mais a frase acima citada, por favor!
Anónimo disse…
o 25 de Abril foi importante para Portugal e para as colonias que na epoca eram provincias ultramarinas. Nao vejo como é que pode separar isto. Afinal nao eram todos portugueses até ao 25 de Abril?
Egidio Vaz disse…
Caro Anónimo:
Não eramos todos portugueses. Não eramos porque os nacionalistas moçambicanos já tinham renunciado à nossa condição de portugueses. Eramos sim colónias portuguesas e seus habitantes, colonizados (com todos nomes à mistura. Eramos indígenas, cafres, assimilados, e "portugueses" de segunda). Mas estava claro, mesmo para o colialista mais desatento, que não éramos portugueses. Essa foi mais uma anestesia que queriam nos injectar. Teve efeitos muito curtos. Ao desencadear a luta de libertação nacional, os "portugueses" renunciaram à sua portugalidade para abraçar a sua verdadeira identidade que tanto aspiravam: moçambicanidade.
Macia:
A Renamo Ganhou a guerra?
A Frelimo derrubou a Renamo?
É um discurso que os historiadores, poucos, começaram a interpelar. Claro que não cabe à nenhum moçambicano dizer que a Frelimo não ganhou a guerra, pois, a prova disso é de que conseguiu proclamar a indepoendência. Querendo usar a mesma analogia, diriamos que a renamo ganhou a guerra só porque conseguiu que em Moçambique se implantasse a democracia multipartidária? (Não venham dizer-me que foi a frelimo que trouxe a democracia multipartidária, fazendo-se valer do texto consitucional que fora aprovado em 1990,antes da assinatura do agp).
Voltarei
Anónimo disse…
qual é difernça entre portugues e portugues de segunda? Qual é a diferença entre portugueses de segunda e assimilados. O Zeca Afonso, por exemplo, aquele que escreveu Grandola Vila Morena, era assimilado, ou era portugues de segunda?
ilídio macia disse…
"Querendo usar a mesma analogia, diriamos que a renamo ganhou a guerra só porque conseguiu que em Moçambique se implantasse a democracia multipartidária?"

FANTÁSTICO, CARO EGÍDIO!
Egidio Vaz disse…
Não sei onde quer chegar, ou se quer que lhe responda.
Mas é assim:
Os moçambicanos nunca foram portugueses. Para os moçambicanos, "cidadania portuguesa" era adquirida mediante a prestação de provas: falar a língua portuguesa, abandonar a cultura africana, viver em casa de alvenaria, tal como os "verdadeiros portugueses" e, se possível, abandonar os hábitos dos cafres. Em compensação, podia passear nas ruas até a hora que quiser.
Esses, na verdade, nunca foram portugueses, aliás, esses moçambicanos nunca o foram. Por isso, os cataloguei, momentaneamente de "portugueses da segunda, ou, se quiser, portugueses de papel".
Anónimo disse…
Mia Couto nunca foi portugues? nasceu antes do 25 de Abril!Tera Mia Prestado provas tais como, as por si mencionadas, abandonar a cultura africana, etc etc
Egidio Vaz disse…
Precisamos de um debate esclarecedor, caro "anónimo".
Diga o seu ponto. Porque assim, com questões atrás de questões não podemos ser úteis um ao outro. Ou seja, eu tenho que saber o que está defendendo, de modo a que consiga o perceber.
Mia Couto nunca foi português. E ele é bem africano.Portanto, queira por favor esclarecer-me. Talvés o entenda mal. Estou bastante interessado nesse debate,
Um baraço, e faz-me esse favorzitio.
Anónimo disse…
Eu apenas estou seguindo seu raciocinio, estou a tentar comprende-lo! nada mais para além disto. Eu penso "nada".
Mia Couto teve que prestar provas de lingua portuguesa,abandonar a cultura africana,etc, etc. Logo Mia sempre foi africano. posso perguntar qual é a etenia de Mia Couto? Mia nao é um assimilado? Ja agora o que é ser africano? sera que é nao ser portugues? Estou apenas a fazer uma leitura do que escreve. verdade seja dita so estou tentado perceber o conceito de nacionalidade que utilisa.
Patricio Langa disse…
"nem a Frelimo nem o Governo portugues podem se arvorar de arquitectos das independências"
Diz o Egidio.
Eu pergunto: O que É um arquitecto da independência?Aquele que faz oquê?Circunstancias, por si sós, podem arquitectar independências?
Egidio Vaz disse…
Pronto, acabou. A Frelimo ganhou a guerra. Mia Couto eh português. Alentejano. O Governo português foi derrotado no campo de batalha.O que vos peço eh que debatamos. O meu pensamento esta ai.Quem o quiser que o interpele.
Perguntas como se detective se tratasse não os desejo tanto nesse espaço. Mais, não me citem fora do contexto. Um abraço a todos.
Anónimo disse…
Egídio Vaz, é um tema melindroso o que nos trazes hoje. Toca várias sensibilidades. VEJA AS REACÇÕES/COMENTÁRIOS. É difícil ficar-se indiferente quando por exemplo dizes que nem a FRELIMO, nem o GOVERNO PORTUGUÊS, foram os aquitectos da nossa independência. É líquido para mim que a Frelimo foi sim. E dizer isto não é o mesmo que dizer que a Frelimo venceu a GUERRA (propriamente dita) como dizes. Mas que foi o arquitecto da nossa independência, disso não duvido. É certo que também circunstâncias temporais, de política internacional, etc. , podem ter contribuido para o nosso feliz desenlance. Isto é OBVIO. É como num jogo de FUTEBOL, não aceito a ideia de se dizer que equipa X ganhou a partida por ter jogado a favor do vento, do sol ou da chuva. Não estou a tentar ridicularizar. Compreenda. Por ora abstenho-me de comentar a questão da nossa MOÇAMBICANIDADE versus cidadania portuguesa. Por achar matéria para um outro longo e profundo debate. Celso.
Egidio Vaz disse…
Caro Celso,
ESPERO QUE NÃO TENHA SIDO O "ANÓNIMO" QUE ANDOU EM PERGUNTAS.
Eu insisto na ideia central da minha tese.
A Frelimo dirigu a luta armada de libertação nacional contra o Governo colonial Português. Este foi o acontecimento. Facto.
A independência foi alcançada sob a direcção da Frelimo. Também é um facto. Vimos nós, Samora, a proclamar a independência.
Ora bem,
O facto de ter proclamado a independência significa que a Frelimo ganhou a guerra? Essa é a pergunta provocatória que fiz. Não é possível uma luta armada sem vencedores? Acho que há. Tantas. A Renamo que o diga. Ou, então, estaremos a ser injustos, todos nós.
Eu estou a dizer que a Frelimo não derrotou militarmente o Estado Português, mas sim políticamente. Ou seja, o colonialismo que se combateu com a luta armada venceu-se à mesa das negociações de Lusaka, antecedidas pelo prelúdio de Dar-es-Salaam.
Portanto, à semelhança do que aconteceu com a guerra dos 16 anos, nem Renamo, nem a Frelimo venceram essa última guerra, apesar de as ideologias terem caído e a democracia ter vincado nos dias que correm.
Se isso não lhe satisfaz, então caro Celso, bata-me.
Muitos equívocos têm sido cometidos por nossos políticos-historiadores e mesmo alguns cientistas sociais. E você também, advogado.
A proclamação da independencia é tida como prova inequívoca da vitória da luta armada. E não a vitória sobre o colonialismo. São coisas diferentes. O colonialismo foi, no mundo, combatido de diferentes formas. No Malawi, Zambia e Botswana, não houve nenhum tiro para a busca da independência. Mas houve sim, luta. E das mais inteligentes do que a nossa. Em Moçambique, Guiné e Angola, houve mortes e massacres.
Em todos países a independência chegou, finalmente. A luta aqui foi contra o regime (colonialismo) tendo sido usados vários meios. Só que o nosso não ganhou. Foi preciso negociar a paz e a indepoendência. Não sei se ainda te satisfiz!
PS:Sobre a citação que está a fazer furor, esquece-a. Foi mal concebida.
Anónimo disse…
Ilustre, não sou o "ANÓNIMO" dos comentários iniciais. O meu primeiro comentário foi o que acabas de comentar. Volto à carga ainda hoje. Boa continuação. Celso.
Egidio Vaz disse…
Ainda bem que não o é. Masá minha ideia é essa. Há muitos moçambicanos que têm medo de ficar órfãos da história. Procuram a todo o custo histórias heróicas, para engrandecer seja a nação, seja as suas mentes desejos.
Por isso, confundem os termos e escamoteam a História. Precisamos de ser rigorosos quando usamos os termose narramos epopeias desse tipo.
Um abraço
Stran disse…
Na minha opinião quando ligamos o 25 de Abril ao fim da guerra colonial é no sentido de que como um estado passamos a defender o fim da luta armada e a independência desses territórios nesse momento. Quanto à questão colonial, na minha opinião não foi uma questão à parte. Foi o que motivou e permitiu o 25 de Abril, pois foi esse desejo (fim da guerra colonial) que permitiu que o apoio das Forças Armadas pendesse para as forças democráticas.
Anónimo disse…
Na verdade, o 25 de Abril, foi (também) impulsionado pelos movimentos de libertação das então colónias e pelo apoio explicito do bloco do leste na altura e do apoio táctico do bloco ocidental. foi uma forma de aliviar a tensão Leste/oeste, e o início de um verdadeira revolução na políica mundial que culmimou na queda do muro de Berlim.
Como portugues tenho a consciência que a independencia das então colónias foi somente antecipada no tempo. Se-lo-iam de qualquer forma, mais ano menos ano, de uma forma ou de outra. Dificilmente pela via armada mas pela pressão política interna (em Portugal) e externa. Só não via quem acreditava na utopia.
Se foi da melhor forma quer para os portugueses quer para os moçambicanos, a história o escreverá, eram tempos de mudança e os processos nem sempre foram racionais mas muito emocionais. Eu mesmo apesar de português dei vivas à Frelimo, a Samora e à Independência. Era dificil não estar contagiado pelo processo e mais dificil era ser racional naqueles tempos. Foram belos tempos em sonhamos com um novo país nosso porque também nos sentia-mos moçambicanos - Que podia fazer um miudo que não sendo aí nascido foi aí que aprendeu a caminhar? Portugal e a Europa nada me dizia (ainda hoje não)
Samora, com todos os defeitos deu-nos (a nós adolescentes na altura) a capacidade de sonhar. O que se seguiu depois faz parte da história e creio que ninguém o podia prever.
Jl
Anónimo disse…
Todas as guerras terminan à mesa das negoiaçoes. A palavra ainda é a mais poderosa das armas. Noa é por acaso que o homem tem medo do dialogo, das palavras, enfim do espirito critico... preferindo, ao invés, disparar de "olhos fechados" matando mesmo seu irmao, seu vizinho, seu amigo e por ai fora; Ou entao utliza o silencio, como forma de ostracismo e de desestruturaçao do pensamento,das ideias. outra arma poderosa esta - o silencio.

Pois bem meu Caro Egidio como diria esm" Pensar ajuda. Procuremos pelas perguntas para as quais a nossa sociedade parece já ter encontrado as respostas. Ninguém se expõe ao ridículo por dizer o que pensa ou por procurar saber mais..."

Por isto toda a pergunta pelo ar mais ridiculo, mais despropositado, mais "detectivesco" que possa ter, prende-se com o facto que, "pensar que se tem respostas para tudo é um equivoco..."
ao questionarmos nosso interlocutor estamos a questionarmos a nos proprios tambem...
engendrando uma dinamica criadora de novos instrumentos analíticos e teóricos, quiça metodologicos, que nos farao esclarecer nossa duvidas, sobrelevar outras e assim por diante...

Prezado Egidio, com todo o respeito e admiraçao que tenho pelo seu espaço, pelo seu trabalho inquestionavel na blogosfera de Moçambique em particular e na blogosfera do mundo lusofono em geral,e porque nao na blogosfera do planeta, permita-lhe que lhe diga que os argumentos de tipo espantalho, nao nos ficam bem,e so nao fazem que encorajar o campo adversario - daqueles que, têm para si, que, "pensar nao ajuda" ou daqueles que pensam que pensam que pensar ajuda à irreverencia...
Egidio Vaz disse…
Caro "anónimo" (não sei porque insiste nesse anonimato, não é aconselhável, mas se preferir, faça-se, aliás, continue com a sua vontade),

Não é verdade que "todas as guerras terminam à mesa das negociações". Temos exemplos de guerras que terminaram com a derrota, no campo de batalha.
A Guerra do Congo Democrático. Laurent Desiré Cabilá derrotou Mobutu Sese Seko;
Em Angola, com a MOrte de Savimbi, acabou a guerra. A UNITA capitulou, apesar de ter assinado o cosmético "memorando de entendimento".
Mohamed Siad Barré (Somália) foi deposto através de um golpe de Estado, de tal sorte que o país, desde então, jamais se tornou o mesmo.
Iraq: Saddam foi deposto e morto e substuído por grupos de fantoches...etc.

Das perguntas: se passear pelas questões que me colocou, verificará que foi-se desviando à medida das minhas respostas. Portanto, não me parece ter sido "escravo da sua inquietação", no sentido de saber específicamente se até as independências (para si, 25 de Abril) todos eramos ou não portugueses.
Eu fui esgrimindo argumentos para lhe provar que na verdade, não éramos, a não se no "papel", tendo inclusive, iventado outras figuras como "portugues" da segunda, etc.
Nesse espaço, não censuro nada; a não ser comentários que explícitamente me ensultem (já aconteceu: duas pessoas, um moçambicano, académico até e outro português, quando me insurgi contra o cartaz do PNR). Apaguei ambos.

Stran,
Concordo com a sua ideia, bem como a do JL.
O que quiz fazer nesse post foi levantar alguns mitos que nós moçambicanos temos. o de que derrotamos o estado português. Não é verdade. É impensável que numa guerra de guerrilha isso aconteça. Pior, quem foi derrotado foi o sistema colonialista português. Não é por acaso que mantemos relações diplomáticas até hoje com Portugal, necessáriamente porque o que estava em causa não eram as pessoas, muito menos os governos, mas o sistema. Do mesmo modo, andam por aqui a dizer que o colonialismo português durou 500 anos. Loucura total. Muito menos de 200, foi o período de tempo em que o colonialismo vigorou em Moçambique!
Um abraço a todos e vamos ao debate.
Anónimo disse…
Na verdade, a história de Moçambique precisa de ser reescrita. Separá-la da componente política que serve essencialmente para consumo interno.
Fica o desafio ao Egidio Vaz?
JL
Anónimo disse…
Seria interessante situar estas guerras no contexto de transformaçoes internacionais, como por exemplo o fim da guerra fria. seria igualmente interessante neste contexto analisar as negociaçoes que tiveram lugar sobre e sob a mesa, ainda que por vezes lhe chame simplemente "operaçoes cosmeticas". Penso ser deveras redutor considerar, nos casos supracicitados, o termino da guerra (?) pelas armas. Riscando desviar-me do tema central do seu texto de novo fico-me por aqui. talvez um dia nos presentei com um post sobre este tema, fazendo seguramente valer as suas caracteristicas de grande analista.
Um bom fim de semana.
Egidio Vaz disse…
JL, o desafio e permanente. Com recortes, revelações, e reconstruções, estamos a pouco e pouco descobrindo o que foi e o que não foi, ou, no mínimo, o que se inventou para a nos entorpecer.
Agora que estamos um pouco mais lúcidos, podemos ver o caminho;...sozinhos.
Há tantos generais (que o são por mera conveniência politica) que de todos os anos, a 25 de Setembro (dia das Foracas Armadas de Defesa de Moçambique) vêem contar as suas historias de sucesso, aquando da guerra "que derrotou o colonialismo português". Nos sabemos que alguns, que hoje se apresentam como antigos combatentes, na verdade, não passavam de estudantes nas varias Escolas da Frelimo espalhadas pela Republica Unida de Tanzânia!
Precisamos de desmascara-los.
Gosto muito de uma antiga combatente sedeada na Beira. Um dia quis saber em quantos combates alinhou, ao que peremptoriamente me respondeu: "meu filho, nos nunca alinhamos. Estávamos ou nas escolas para receber feridos e trata-los, ou nos acampamentos a tratar de comida e outras coisas. Foram poucas as mulheres, nem chegam 10".
Nem por isso a deixo de respeitar como tal: minha antiga combatente. Tenho a certeza que muitos homens, também tinham que tomar esta coragem e dizer abertamente que não lutaram.
Abraço a verdade.
Anónimo disse…
Não há inverdades quando afirmam que "...derrotamos o colonialismo português". Mas também não é a verdade histórica.
Sabemos das necessidades de discurso para "heroiquização" do moçambicanismo. Más também é um discurso claramente com objectivos políticos com o intuito da Frelimização do poder.
Os generais claramente deveriam afastar-se dessa matiz política pois num estado de direito eles estão ao serviço da Nação e não do partido A ou B. Irá ser certamente um longo precurso até ao dia em que cada um saiba ocupar de facto e de jure o seu lugar na sociedade assumindo não só as suas responsabilibades mas também os seus deveres. Será preciso uma nova geração, provavelmente oriunda da burguesia pós colonial a fazer essa viragem. Enquanto perdurar não a verdade mas a verdade que interssa a cada um, a história será sempre escrita não por documentos mas pela oralidade e pelas conveniências do momento.
Tb eu conheço, muitos "velhos combatentes" que nunca tinham disparado a AK e com um curso acelerado de "guerrilhismo".
... mas poderia ter sido de outra forma?

JL
Egidio Vaz disse…
JL,
Eu não disse que há inverdades. Eu apenas constatei algum aproveitamento politico por parte desses generais.
Abraços.
Anónimo disse…
Caro Egídio,

Durante muito tempo foi-me ensinado que Luis de Camões perdeu o olho num heroico combate contra os Mouros ou algo parecido. Mais tarde vim a saber que teria perdido o olho numa zaragata de taberna. Conto isto que não conheço país que não tenha mistificado a sua história. A história da FRELIMO vai necessariamente ter que ser mistificada. A história da Renamo, também. A história do 8 de Março, idem. Creio que é deste modo que se fundam as nações. Com um pouco de mística. Com uma certa invenção de heróis. Isso é mau? Não sei, nem me interessa. Provavelmente existam algumas elites que possam conceber uma nação sem heróis e sem história gloriosa. Creio no entanto que as nações não são constituídas apenas por essas elites.

Um abraço amigo. Gabriel Muthisse
Anónimo disse…
Concordo consigo Gabriel, nas msitificação do heroísmo. Porque não? São ícones agregadores da Nação. E uma Nação relativamente recente como é o caso de Moçambique mais necessidade tem. Agora o que é verdade ou fantasia isso de facto nem têm muita relevância. Mas, há sempre um mas, não é assim que se escreve a história e não se pode confundir a história de um partido (já não é um movimento de libertação) com a história de um país mesmo quando muita é comum. Num partido comungam-se ad mesmas ideias políticas, ou não, os mesmos interesses. Num país, mesmo com interesses divergentes, há um precurso, uma identidade comum. E nós sabemos que em todo o lado, mas muito visivel em Moçambique, é a filiação partidária por interesses e não por ideologias. Há sempre a tendência de estar ao lado do poder pois isso também é uma forma de poder. Em Moçambique a separação entre o Estado e o partido ainda é ténue. Daí muitas vezes nunca sabemos com quem falamos se com o sr xpto governnate se com o mesmo sr xpto dirigente partidário.
Um abraço
JL
Anónimo disse…
Concordo com tudo o que escreveste sobre este tema. Mais uma vez está demonstrada a tua imparcialidade nos temas por ti abordados.

Forte abraço e Viva o 25 de Abril!

[[]]
Laurentina disse…
Depois de ler todos os comentários ao teu post ...apenas digo que na minha opinião os dois assuntos não se podem dissociar um do outro.
Beijão grande
Egidio Vaz disse…
JL, Obrigado pela achega.
Gabriel Muthisse,
faca das palavras de JL as minhas.
Na verdade, precisamos de mitos. E não de mentiras e aproveitamentos políticos. Se for a ver o meu artigo, eu dou valor a esses homens e mulheres, todos eles, que lutaram pela independência. O meu ponto, como deve imaginar, esta na tentativa de sempre fazer passar uma vitoria como sendo o resultado da outra Ou seja, a vitoria sobre o colonialismo como sendo resultado da vitoria militar sobre o Estado português ou, no caso português, a independência de moçambique como sendo resultado directo do 25 de Abril. Eu primo por uma analise mais balançada, onde se da o devido mérito a cada facto histórico.
Como dizia o economista brasileiro, Ladislaw Dowbor, luzes mal focadas apenas ofuscam, não iluminam o caminho. Precisamos portanto, dar o devido mérito a cada facto histórico:
Não podemos sacrificar a verdade, apenas porque estamos interessados em construir a nação. Isso ainda pode nos empobrecer.
Um abraço a Laurentina, e seja bem vinda. Ao Gabriel, e JL, obrigado pelos insumos. Teixeira, muito obrigado pela forca. Estamos sempre juntos.
João Feijó disse…
Caro Egídio, apraz-me a forma descomplexada como olhas para estas questões. Faço só alguns reparos:

A questão colonial não estava completamente à parte do projecto dos militares de Abril. Muito pelo contrário, ainda no dia 25 de Abril de 1974, a Junta de Salvação Nacional referia precisamente na RTP essa prioridade no seu discurso público. O slogan oficial que se popularizou era precisamente “Nem mais um soldado para as colónias” (ironicamente as consequências acabaram por ser catastróficas sobretudo em Angola, onde nem se pode falar de descolonização, mas de simples abandono). A questão colonial - a guerra e o envio de milhares de jovens portugueses para a África (muitos pensavam que iam defender apenas os privilégios de uma minoria de colonos que lá residia)-gerou um forte descontentamento no seio da juventude portuguesa e em diversos sectores militares. A questão colonial não era só criticada internacionalmente, mas também no seio da sociedade portuguesa, ainda que condicionada pela censura. A mim também me parece que a guerrilha de todos os movimentos de libertação levou ao 25 de Abril, da mesma forma como o 25 de Abril permitiu que a questão da descolonização passasse para a agenda política (algo impossível durante o Estado Novo ainda que durante o governo de Marcelo já se considerasse, de forma secreta, essa possibilidade). Acho que este debate é como questionar se primeiro veio o ovo ou a galinha.

Agrada-me quando escreves que “Há muitos moçambicanos que têm medo de ficar órfãos da história. Procuram a todo o custo histórias heróicas, para engrandecer seja a nação”. Trata-se de algo que se passa não só em Moçambique mas em todos os países do Mundo. Aliás, a história é a ciência mais nacionalista e politizada que existe.

Sobre o comentário do Mário Soares na Tanzânia: “Mas vocês, o povo de Moçambique não vos conhece! Andam a chamar-vos de turras. A nossa proposta é de fazermos um referendo para saber se os moçambicanos querem a autodeterminação ou não!” Não negando que Soares procurava uma solução mais federalista e que tentava defender os privilégios dos colonos portugueses, pergunto-te se achas que num país periférico com graves deficiências em termos de infra-estruturas de transporte e de comunicação, condicionado pelo analfabetismo e fortemente constrangido pela censura de um sistema político ditatorial, o povo conhecia a Frelimo.

Em relação ao estatuto do indigenato ele foi abolido com o início das guerras pela libertação (ou guerra colonial, consoante a perspectiva), ainda que anteriores práticas se mantivessem. Quanto a este aspecto, no geral, estou de acordo contigo. Foi só um preciosismo que achei relevante referir.

Em relação aos 200 anos de colonialismo português, acho um exagero. Quanto a mim, dos cerca de 500 anos que mediaram a chegada do primeiro navegador português à costa (hoje) moçambicana, até 1975, Portugal só terá desenvolvido em Moçambique uma acção colonial efectiva, após as conferências de Berlim de 1884-85, e uma real administração a partir da década de 1920 com o Estado Novo. Estamos a falar portanto de menos de 50 anos.

Um abraço,

João
Egidio Vaz disse…
Caro João. Concordo com a maioria dos pontos. Apenas um senão:
O Povo moçambicano estava na altura, já ciente para entender que vivia sob o colonialismo e que este não era de todo bom. Difilmente acreditaria que as pessoas não soubessem dos interesses da luta armada de libertação nacional. Pode ser,mas preciso de mais informação a propósito.
Egidio Vaz disse…
Apesar de tudo, gostei imenso do comentário.
João Feijó disse…
Caro Egídio,

Não vivi nessa época, falei com poucos africanos que viveram esse período e, tudo o que sei, resultam de análises (contraditórias entre si) de terceiros, muitos dos quais politicamente muito envolvidos com o fenómeno. E porque não me sinto informado sobre o assunto para dar uma opinião, resta-me lançar questões: Num país já então periférico, condicionado pelo analfabetismo, pelas dificuldades de transporte e de comunicação, bem como pela censura de um regime ditatorial, qual seria a percentagem de moçambicanos que tinha noção da existência da Frelimo e do seu projecto? Até que ponto tinham (condições para desenvolver) essa consciência política mais participativa?
Até que ponto não foi essa consciência revolucionária imaginada após a independência, no sentido de defender os interesses da nova elite dirigente? Até que ponto é que realmente se entrevistaram as pessoas de forma crítica e isenta para conhecer as suas posições durante a luta armada? Até que ponto as pessoas tinham liberdade para ser genuínas? Não estou a negar nem a afirmar nada (não me sinto nem com legitimidade nem com conhecimentos para o fazer), mas apenas a lançar questões, que poderia estar a lançar em qualquer parte do Mundo, sabendo, pelo menos isso sei, que a história é a ciência mais politizada delas todas.

Outro abraço,
João
João Feijó disse…
Apesar de não estar devidamente informado sobre o assunto, não resisto a fazer um comentário. Sempre que falei sobre política com os moçambicanos de contextos sociais mais desfavorecidos fiquei com a seguinte impressão (evidentemente discutível e que, por isso, vale o que vale):

Predominou o medo de falar sobre política e fiquei quase sempre com a impressão que as pessoas me diziam aquilo que pensavam que eu ia gostar de ouvir. Preocupados sobretudo com a sobrevivência diária e comunicando (quase) apenas na língua regional, para esses moçambicanos os assuntos políticos constituem realidades distantes e ininteligíveis, algo que acontece num campo inacessível da sociedade. Quero com isto dizer que, num contexto de iliteracia generalizada, a informação e os debates políticos são veiculados no seio de uma elite autista, ao invés de propiciarem uma cidadania activa e participativa no grosso da população moçambicana e que já era assim durante no regime ditatorial no tempo colonial.

Atenção que não me parece que se trate de um fenómeno de alienação. Senti que havia um grande cepticismo em relação à política que se traduzia em formas de resistência passiva em relação às elites dirigentes, sejam elas quais forem.

Mais um abraço,
João
Egidio Vaz disse…
Caro João,
As questões que lança são na verdade muito importantes e não fogem muito da ideia central que defendo no texto principal (o do aproveitamento politico que se faz a determinados factos históricos para beneficio próprio.
Todavia, sem querer responder directamente a questao, digo por ora que Mário Soares não tinha a razão quando propunha uma solução federalista a questao colonial. Nao tinha mesmo. Esta afirmação responde parcialmente as questões por si colocadas quando se referia ao nível de informação e preparação dos moçambicanos em relação a luta desencadeada pela Frelimo.
Mais, acho que não precisava que toda a gente estivesse consciente para que os moçambicanos exigissem a sua independência. Tratou-se sim de uma necessidade de repor os atropelos aos mais elementares direitos humanos.
João Feijó disse…
O comentário não era sobre a proposta federalista do Mário Soares (que nem sei até que ponto a tinha, o período era politicamente tão conturbado e confuso que faltavam projectos claros). Muito menos era sobre a legitimidade dos povos de exigirem a sua auto-determinação (cada qual com o seu dogma, e esse é um dos meus preferidos), quer sejam convidados a pronunciarem-se sobre o assunto, quer não sejam (neste segundo caso, em qualquer parte do Mundo cresce sempre a polémica). O comentário era apenas sobre as contradições dos discursos políticos, sobre o autismo das elites dirigentes, sobre a educação para uma cidadania democrática para que, em consciência e de forma emancipada as populações possam participar livremente na definição dos seus destinos. Talvez sobre a palermice do nacionalismo. No geral estamos de acordo. É saudável debater e pra mim foi um prazer. Voltarei sempre que puder.

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