Comentário de João Feijó

Em resposta ao post sobre a publicidade anti-imigração lançada pelo PNR João Feijó fez um comentário que achei de extrema imprtância pó-la aqui.
Noutra extremidade, também Máquina Zero respondeu à minha indignação. Confira qui.
Aqui vai o comentário de João Feijó. Muito obrigado João

Perante a radicalização dos discursos (processo no qual também fui responsável), que em nada contribui para se esclarecer a questão, acho importante referir o seguinte:
1- Em qualquer parte do Mundo onde se viva uma crise económica e onde aumenta a competição pelo acesso aos recursos de poder (aos empregos, salários, habitação, enfim, ao consumo em geral) torna-se compreensível que emirjam discursos de exclusão do outro. Os grupos minoritários mas socialmente mais visíveis transformam-se, facilmente, em bodes expiatórios. Não interessa que tenham culpa ou não, o que importa é imaginar um inimigo externo para culpar dos males que nos afligem. Trata-se de um processo social observável, repito, em qualquer parte do Mundo e nem Portugal nem Moçambique constituem excepções.
2- Em Portugal existem dados concretos (estatísticas oficiais) que comprovem a existência de uma relação estreita entre imigração e criminalidade? Alguém pode afirmar seguramente que a maior parte dos indivíduos que cometem crimes e que estão nas cadeias são estrangeiros? Pois claro que não. Então porquê tanto alarmismo? Enquanto professor, a impressão que tenho é que os alunos menos disciplinados, menos aplicados, menos motivados e menos respeitadores são, precisamente, os alunos portugueses. Não estou com isto a dizer que todos os imigrantes são um exemplo para a sociedade, mas apenas que não podemos estabelecer uma relação clara entre aumento da imigração e aumento da criminalidade.
3- Quantos portugueses emigrantes existem? 3 milhões? 4 milhões? 5 milhões? Seguramente bem mais do que os cerca de 500.000 imigrantes residentes em Portugal. E se os países onde vivem os emigrantes portugueses (França, Suiça, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Inglaterra, EUA, Canadá, Brasil, Venezuela, África do Sul, Angola, Moçambique…) adoptassem políticas xenófobas em relação aos portugueses?
4- Qual é o nível de dependência dos sectores da restauração e da construção civil em relação à mão-de-obra imigrante? Existem muitos portugueses dispostos a realizar esses trabalhos pelos preços que se praticam em Portugal? Pois não, preferem fazê-lo na Suiça, na Alemanha ou no Luxemburgo onde são bem pagos.
5- Constituirá a imigração exclusivamente uma ameaça ou também uma oportunidade? Qual será o melhor passo para a promoção do respeito mútuo e da interculturalidade? construir muros ou pontes entre culturas? Porque não substituir o medo pela curiosidade?
6- Com estes discursos, que imagem se está a dar de Portugal no estrangeiro? Portugal é um país com uma tradição secular emigratória que, num presente cada vez mais globalizado, procura internacionalizar as empresas portuguesas e promover o aumento das exportações. Será que estes discursos e estas guerrinhas contribuem para a melhoria da imagem de Portugal no Mundo?

Comentários

Olá Egídio
não apanhei o início desta "discussão", daí não fazer um comentário mais alongado. Escrevo apenas para lhe dar os parabéns pelo seu blog e referir que ao infeliz cartaz do PNR respondeu o Gato Fedorento com outro que gostaria de ver também ser objecto da sua reflexão.
Ambanine

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