Força do Hábito ou Pura Adulação?

Christopher Paterson "deseja" a Armando Guebuza, uma "longa permanência no poder"

Não sei se desejaria o mesmo ao Tony Blair. Mas fê-lo aqui. Um senhor, provavelmente muito bem dado à técnicas de bajulação, de nome Christopher Paterson, Presidente e Director Executivo para a área da Educação da Editora Multinacional Macmillan, pediu ao meu Presidente, Armando Guebuza, uma "longa permanência no poder". Isso mesmo, longa permanência no poder (aqui ressalva-se a ocorrência de Golpe de Estado, coisa que não passa pela cabeça de nenhum moçambicano, muito menos ele); ou seja, enquanto houver a vida, senhor Guebuza, governe à vontade este país que é seu, pois, nas suas palavras, "Guebuza é o verdadeiro homem do Povo". Essa, de verdadeiro "Homem do Povo", também não passa de uma provocação à obra sobre Samora Machel, cujos autores assim decidiram o apelidar. Mas, menos mal. Também podem ser os dois: homens do povo.
Aconteceu no lançamento da Biografia autorizada (escrita por Renato Matusse) de Armando Guebuza, o Presidente da República de Moçambique, tida no Centro de Conferências Joaquim Chissano, passada sexta-feira.
Perante tanta gente e ele próprio falando em plenos pulmões, o nosso Christopher esqueceu-se, sei lá porque cargas de água, que em Moçambique, a permanência no poder de um Presidente da República é regulada. Tem prazos. São cinco anos. E se gostar, e, em caso de o seu desejo coincidir com a vontade popular, poderá se recandidatar para mais um mandato de igual período.
Ao todo, serão, no máximo dez (10) anos, senhor Christopher, que o Presidente Guebuza permanencerá, caso ganhe as próximas eleições. E isso, necessáriamente irá contra o seu "desejo".
Sei que a Rainha Elizabeth II está no poder desde os seus 25 anitos. Terá sido por estar habituado à ela que também me deseja a mesma sorte? Ou então, Sr. Chris, estará a propor a transformação da República de Moçambique em Reino de Moçambique (Kingdom of Mozambique?).
Christopher Paterson não devia cair tão baixo assim. Sabemos que a altura era propícia para bajulações, mas até este ponto?
Cuidado com os bajuladores. Podem estar a esconder um objectivo por detrás das palavras que proferem. Confira o texto que escrevi ainda em plena campanha eleitoral de 2004 (Eleições Gerais e Presidenciais de Moçambique), alertando para aduladores como estes. E a carta era dirigida ao actual PR. Veja o artigo, publicado no malogrado Embondeiro aqui.

Comentários

Anónimo disse…
Vi o texto no "Canal de Moçambique", e a sensação com que fiquei é de que as palavras do tal Christopher Paterson foram citadas fora de contexto. O teu texto (que em si é excelente)parece-me ir no mesmo sentido. Na verdade, existem outros ângulos em que se pode analisar as ditas palavras. Atentendo à ocasião, não duvido que de facto o discurso do representante da Editora (como provavelmente de todos os que usaram da palavra na cerimônia) foi no sentido de HONRAR a figura do P.R. . Agora se tais palavras foram ditas com intenção de BAJULAR é me difíl descortinar. Celso.
Egidio Vaz disse…
Excelente análise sua.
Não creio que tenha havido tendencia dolosa na notícia. O que fiz foi a análise da força ilocutória das palavras. Elas, quando são ditas, não apenas pretendem informar ou comunicar; também impelem-nos à certas acções ou apelam-nos para certas práticas e ou atitudes. A propósito, ecrevi há dias, um artigo publicado no mocambique online em que fazia uma incursão à história e força ilocutória das palavras camarada e patriota. Continuarei a fazer esse exercício.

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