Recreio e Divulgação
Recreio e Divulgação é o título de uma das secções nas páginas do Jornal Notícias. Nela aparecem divulgadas notícias nacionais, internacionais, desporto, cultura, enfim, tudo aquilo que não mereceu destaque nas páginas nobres como "economia, política, nacional, capital, etc. Do mesmo modo, os textos do sociólogo Elísio Macamo apareciam na secção denominada "sociedade". Não sei bem o critério usado para qualificar tanto os textos como as notícias. Por isso a conclusão a que cheguei. Posso estar errado.
Na sua edição de ontem, o jornal traz a notícia de que até 2025 o país passará a ter 6500 cientistas. Isso mesmo, 6500. Ou seja, nos próximos dezoito (18) anos, o país terá que formar 5900 novos "cientistas". E desenganem-se os que pensam que os ceintistas sociais estão inclusos. Para o Ministério de Ciência e Tecnologia, cientista é aquele que sabe fazer. E a prova disso é o seu portal. Na secção de "Instituições de Pesquisa", apenas estão onze (11) Institutos. Todos eles de "pesquisa virada à produção(?)". Nem o CEA, CEEI-ISRI, INDE, etc., todas patrocinadas pelo Orçamento de Estado estão presentes. Estava a ir longe demais. Voltemos ao que interessa.
Dizia que o Governo, pela boca do Ministro de Ciência e Tecnologia Venâncio Massingue, pretende formar nos próximos 18 anos aproximadamente 6000 cientistas. "Actualmente o país possui 600 em centros de pesquisa e laboratórios". Portanto, o que não se fez em trinta (30) anos, pretende-se fazer em apenas metade destes.
Para operacionalizar o objectivo, o Governo conta com o apoio (tou a pidiri!)de alguns estados amigos, que anualmente irão oferecer bolsas de estudo para os níveis de mestrado e doutoramento. Dentre eles, pontificam o Brasil, Australia, Índia, China, etc. Estes, irão anualmente aceitar a entrada, de cidadãos moçambicanos para se formarem em "várias áreas da ciência aplicada".
A razão porque é necessário formar mais cientistas centra-se, nas palavras do Ministro, "no défice que temos em relação ao resto dos países africanos". Sem especificar em que lugar nos posicionamos neste ranking dos países africanos, muito menos porque e para o quê é que precisamos de 6500 e não um milhão ou menos de 1000, o ministro quer ver o número aumentar. Eis a falácia de números! O Plano Estratégico do Ministério da Ciência e Tecnologia vai até 2015. A previsão no aumento de cientistas se estende até 2025.
Por outro lado, as áreas em que estes cientistas serão formadas não é especificada na notícia. Mas fica claro que não é nas áreas das ciências sociais. Num primeiro exercício para a materialização desse objectivo, 50 jovens moçambicanos recém-formados em Biologia, Agronomia, Medicina e Veterinária participaram, entre 19 de Março e ontem, num curso denominado “Temas actuais da Biomedicina”, que se realizou na cidade de Maputo. O curso que contou com a orientação de reconhecidos cientistas nacionais e brasileiros está inserido num programa de parceria denominado “Proáfrica”. O referido programa de cooperação no domínio da ciência e tecnologia, em curso desde 2005, foi desenhado para servir de ponte entre investigadores de Moçambique e do Brasil, segundo o ministro".
PS:
- Pessoalmente fiquei muito ofendido pelo facto de a notícia ter merecido aquele lugar(Recreio e Divulgação).
- Por outro lado, pela vacuidade palpável da informação que nos foi dada a ler, deu para perceber quão preguiçosos são alguns dos nossos jornalistas. Foram no centro de conferências e encostaram o microfone ao Ministro, deixou-o falar e depois os dois subiram nas suas viaturas e cada um tomou o seu rumo. A isto se chama jornalismo de acompanhamento, como bem definiu Salomão Moyana, antigo director do Jornal Zambeze. Uma prática infelizmente bem enraizada no nosso país. Na recente visita do PR a China, Japão, Vietnam, etc, mais de 5 jornalistas o acompanhou. Chegados lá, nada mais faziam do que esperar os intervalos ora para entrevistar o Presidente, ora para ouvir do Embaixador local, ora para se entrevistarem entre eles...
- O Ministério de Ciência e Tecnologia tem falado bastante acerca de formação de novos cientistas. A propósito, o que sabemos nós dos actuais 600 ceintistas e respectivos centros de investigação? Como eles vivem? Que condições profissionais estão criadas? Qual é o nível da sua produção científica? Alto, baixo? Porque? Porque queremos mais cientistas? Apenas para aumentar o número? E os centros de investigação? Como estão eles? Possuem condições de trabalho?
Estou a falar em vão, dirão. "Tudo o que disse, já está previsto no plano estratégico. Estamos a trabalhar!"
Comentários
Poderiam até ser 1 milhão de cientistas!! Se forem da linha actual de pessoas que "vencem" no nosso país, teremos 1 milhão de NULOS! Neste momento o "lambebotismo", passe a tua expressão, é que lidera. A Mediocridade reina nas nossas escolas, desde a pré primária até às universidades.E kem vai conseguir uma bolsa? O individuo aplicado e orgulhoso do seu trabalho ao ponto de não se rebaixar para conseguir + ou a minhoca sanguessuga que todos dias desgasta o sorriso e a lingua de tanto escovar o seu superior?
Ok, talvez a maioria virá da recente costela da nossa Universidade que se pretendia Pública, a UP...Sim, porque por 100usd por mês, sem critério de admissão e pondo 300 alunos numa sala (perdoem-me,mas era um saudável campo de futebol)aí sim, poderemos até encomendar os 2 biliões de chineses e formá-los todos!!
Mas como dia a minha "superior", é um processo, somos um país jovem e um dia lá chegaremos....
Pensem Nisso
Números! Por isso a UP permanencerá incólume, a formar gestores de empresas e engenheiros ambientais. Professores também, mas será de dia. Ai, Que desgraça.
Só para referir que embora parece-se (vi isso depois de ler o k escrevi) obviamente não estava a confrontar o teu texto mas sim a assinar por baixo...
Só tenho pena que o acesso à internet ainda seja tão pequeno e os que o fazem ainda perdem tempo procurando sites pornográficos grátis...(+ fácil encontrar agulha num palheiro!!)....
Enfim, a estrada é longaaaaaaaaaaaa
Saudaçoes
Precisamos de ler e saber muita coisa sobre o nosso país. O que nos é dado pelos canais de informação públicas não passam da sobra do país, projectada a partir de dum ângulo distorcido da verdade.