Indisciplina e Soberania Nacionais

Esta notícia busquei-a no O Pais. Trata da negação pelo Ministro das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias, do tipo de relações entre os doadores e o Governo. O meu comentário vem logo a seguir o texto.

O Ministro das Obras Públicas e Habitação, Felício Zacarias, diz que os doadores não devem impor prazos para a reestruturação da Administração Nacional de Estradas – ANE, na medida em que compete a si zelar todos assuntos adstritos àquele Ministério.
Este pronunciamento surge em refutação à alegada violação do termo imposto pelos doadores para reorganização da ANE.
Nos princípios deste ano, os doadores do sector de estradas impuseram condições para financiarem o segundo programa de estradas no país. Uma das exigências era que até 01 de Abril, a ANE tivesse um novo director-geral seleccionado através de um concurso público.
Entretanto, a posição dos doadores não foi cumprida, e quando questionado sobre o incumprimento deste prazo, Zacarias mostrou firmeza, alegando que não vai admitir imposição de prazos no processo.
De recordar que o director-geral da ANE é nomeado pelo Ministro das obras Públicas e Habitação.
FIM

Eis aqui, mais uma contradição das nossas lides políticas. Em entrevista a STV, Felício Zacarias chegou a dizer que a recusa da imposição de prazos por sua parte tinha a ver com a necessidade de preservar a soberania do país e do governo em especial.

Todavia, há uma coisa que contrasta com o actual discurso político: o Presidente da República tem vindo a criticar os Governos provinciais pelo incumprimento de metas por si traçadas. Em Cabo Delgado, deu uma entrevista onde lamentava este facto. Ora bem, Felício Zacarias não nega explicitamente o incumprimento das metas, porque o que estava combinado ou imposto não foi cumprido. Um de Abril, já passou.
O que FZ nega é de ser penalizado por isso. Nega ser chamado incompetente. Por isso recorre-se a emoção e ao sentimentalismo para justificar o atraso. Ou seja, quando à mesa de negociações entre os doadores e Governo, os primeiros impuseram datas, metas e indicadores de desempenho, tinha que ser logo naquele momento, a altura certa para que o Ministro recusasse essa imposição. O Engenheiro Felício Zacarias tinha que dizer não, naquele dia em que os doadores estavam a impor tal meta; tal dia 1 de Abril. Mas, ao que tudo indica, tal não aconteceu. Um mês depois, mano Zaca vem dizer-me que não aceita imposições de estrangeiros porque o Estado é soberano? De que soberania estará a falar o caro Ministro? Incumprimento de metas por parte do Governo? E, infelizmente, ao ser questionado dos motivos que estiveram na origem do incumprimento das metas, Felício Zacarias falou de factores técnicos. Quais, não as mencionou.

Uma coisa é a imposição de metas, que tinha que ser rejeitada logo no dia em que os dois negociavam o financiamento de estradas, outra coisa, bem diferente, é o incumprimento dessas metas "impostas" e consentidas no dia. Todos sabemos que o país vive de "imposições e doações estrangeiras." E não venham com nacionalismos baratos. Não cumpriu a meta, chupa. Desta vez, mano Zaca, o tiro saiu-lhe bem pela culatra.

Comentários

chapa100 disse…
e como saiu egidio. o pais da responsabilidade sem sancao. quando foi a mesa da negociacoes nao precisou do capital politico para negociar. agora que as coisas estao pretas vem a esfera publica buscar o capital politico. a politica funciona assim. em todo lado. nos paises europeus os politicos ja arranjaram uma formula: referendus. para fugir a pressao da EU e da forca globalizante dos valores e do corporativismo politico e economico.
Egidio Vaz disse…
Só aqui, engana-se quem não estiver atento. Felicio atrasou-se nas suas decisões e no processo de recrutamento do novo chefe da ANE. Só isso. O que Felicio tinha que dizer antes era justificar o atraso, pois a soberania, esta, ele ja a tinha vendido aos doadores aquando do primeiro encontro. Alias, nem ele e soberano nas suas decisões. Tratou-se de um acordo. Uns tinham o dinheiro para dar só que esse dinheiro tambem tinha prazo para ser gasto. O Estado moçambicano, não soberano porque carente de recursos, aceitou a imposição, tendo se comprometido encontrar outro chefe da ANR ate 1 de Abril.Essa e a historia do deixa andar.
ilídio macia disse…
Viva, caro Egídio!! És muito atento. Gostei!
Egidio Vaz disse…
Eh preciso dormir com um olho aberto, como dizia o já finado, Jeremias Nguenha.
Laurentina disse…
Sempre as mesmas falcatruas ...
IRRA!!!


Beijão grande

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