Criar Intsituto Superior para investigar como produzir MILHO em tempo seco!
Estou a ficar cada vez mais desesperado em relação ao futuro dos filhos que ainda não os tenho. Estou a ficar cada vez mais triste com o futuro do meu país.
As ideias que ultimamente tenho ouvido, dos mais velhos e quiçá, mais estudados, tem estado a criar em mim algumas dúvidas. Questiono-me, amiúde, se elas vêem das suas cabeças ou a sua figura tem sido usada como testa-de-ferro.
Recentemente a UEM assinou um memorando de entendimento com a Universidade Agrária de Sichuan, China através da qual, a última irá ajudar a primeira na instalação de um Instituto Superior do Desenvolvimento Rural em Vilanculos, Inhambane. Esse Instituto, segundo o memorando, estará virado ao estudo de técnicas de agricultura, aperfeiçoamento de gestão de recursos naturais, entre outras.
Padre Filipe Couto, Reitor da UEM bem como Wen Xintiam Reitor da Universidade Agrária de Sichuan, disseram em conferência de imprensa que uma das prioridades desta Instituição de Ensino Superior seria formar quadros que garantam maior produtividade, por exemplo do milho em pequenas parcelas de terra. É o que faltava acontecer, para a desgraça da UEM. Não admiro que daqui há pouco venham mais chineses apoiar a instauração de mais um instituto superior para transmitir o conhecimento científico!
Para começar, se o objectivo que levou(?) a Direcção da UEM instaurar um Instituto Superior de Desenvolvimento Agrário em Vilanculos foi para lá irem procurar as causas que faz do Povo moçambicano sofredor e faminto, então, saibam eles que estão errados. Provavelmente a causa esteja nos gabinetes dos vários decisores, como a Direcção da UEM. Não me ocorre, em estudo algum dando conta que Vilanculos seja uma região agro-ecológica propícia para instaurar tal instituto. Da cartografia de regiões agroecológicas, não consta nenhum Vilanculos. Da cartografia contrária, também não. Pior, não entendo bem porque é que a UEM decide criar uma instituição em Vilanculos cujos docentes viriam das Faculdades de Viteriária e Agronomia, em Maputo. Porque não potenciar as mesmas faculdades em meios e recursos que tanto lhes falta para atingir esse objectivo, aumentando igualmente o número de novos ingressos?
Se a missão deste Instituto é pesquisar técnicas agrícolos que permitam a produção da comida em tempos secos e espaços reduzidos, que raio de coisas estará a fazer a Faculdade de Agronomia, donde sairão os docentes que irão ensinar as mesmas técnicas (já agora não leccionadas(?) na Faculdade donde provêem) de produção agrícola em solos inóspitos!?
Ainda no rol das minhas indignações, cá em Moçambique temos uma coisa que se chama Ministério da Agricultura, que há dias ardeu sem no entanto ter se encontrado algum responsável pelo sucedido. Esta coisa tem lá, muitos departamentos, um dos quais destina-se ao patrocínio e estudo de técnicas agrícolas para o melhoramento de plantas, etc. Temos mais um Instituto Agrário de Moçambique e a Direcção Nacional do Desenvolimento Rural, o Instituto Nacional de Veterinária e o Instituto de Produção Animal...dentre tantos. Um dos mandatos destes institutos é a investigação. Tem dotações financeiras do Estado bem como das várias agências de desenvolvimento Internacionais. ENDIVIDAMO-NOS cada vez mais com o Banco Mundial, FMI e vários países, para dotar destas instituições de meios financeiros suficientes para investigar exactamente o que o Padre Filipe Couto quer saber (como produzir comida?)!
Estamos a chegar ao ponto em que ficamos cada vez mais convencidos que a causa da pobreza deste país não está apenas no colonialismo, nem nas calamidades naturais como cheias, incêndios, secas ou estiagens, cinclones (Fávio, o último que destruiu Vilanculos), muito menos nos incêndios que ocorrem em vários estabelecimentos públicos deste país e, catalogados como "calamidade humana".
O problema deste país está nas pessoas: dirigentes, cidadão, seja ele quem for, incluindo investigadores (ainda ontem ouvi um cientista político a dizer que a SADCC surgiu nos anos 80! Confundiu com SADC). Temos um problema grande de, quando acordamos de manhã, aparece-nos uma ideia e logo vamos a procura de patrocínios... Logo voamos em workshop(es) e em campanhas de angariação de fundos para viabilizarmos uma ideia genial! Não partilhamos nem informação, muito menos procuramos saber se a ideia que temos, alguem já a teve, muito menos procuramos saber se alguém já a implementou, para daí decidirmos se vale a pena inventar outra roda ou aperfeiçoarmos a já existente.
Será a falta de Instituto Superior a causa da nossa fome? Aliás, será a falta de milho em Moçambique, a causa da nossa fome? Por outra, será a subprodução, a causa da nossa fome? E como é que a República do Malawi sobrevive às custas do milho dos distritos de Milange, Morrumbala, Lago, Sanga e Mutarara?
O problema é a fome ou a necessidade de "aproveitar" o dinheiro dos Chineses para fazer mais uma instituição de ensino superior?
Esta história lembra-me John Perkins em suas confissões do sicário económico. Neste livro, ele relata como os EUA emprestavam dinheiro aos países em vias de desenvolvimento, muito dinheiro mesmo, para a construção de estradas luxuosas, hotéis e outros estabelecimentos sem muito impacto sobre os pobres. Depois que os governos não pudessem pagar a dívida, vinham então os sicários económicos exigir junto dos governos locais concesões de explorração de recursos naturais. No caso da América Latima e Arábia Saudita, era o petróleo e florestas amazónicas (para a América latina). No caso da África, recursos florestais e fauna bravia, como aconteceu com o Kenya. Não estará a China a fazer o mesmo com o nosso moçambique? Vai patrocinar a construção de um luxuoso estádio de futebol, algures em Maputo. Não se trata de oferta, mas de um empréstimo. Só que assistir futebol não mata a fome, como tem sido a preocupação dossos dirigentes.
Comentários
Fiquei estupefacto ao ouvir a notícia.
Cada vez mais me convenço que não estava enganado quando sugeri que se está a tratar a universidade como se ministério fosse. Ao invés de se criarem melhores condições de, e para, investigação na já existente faculdade de agronomia surgem com essa do instituto. Com relação as coisas da nova administração da UEM, sou Kierkegaardiano, creio quando absurdas. Um verdadeiro atentado a razão. Numa palestra o novo reitor descobriu (eureka) um novo conceito de ensino universitário e definiu assim: innovative teaching is the teaching that makes money. Exortou aos docentes para que implementem esta filosofia. Ninguem me conseguiu explicar how to make money. Provalemnete teremos que plantar em canteiros nos espaços verdes que ainda restam no campus.
Agrade-lhe pelo facto de ter sido o primeiro a comentar.
De facto eu estive na tal palestra. Até que nem foi ele o principal orador, lembra. Foi António Fernando, que nos enganou que iria nos falar da Estratégia Moçambicana para a Integração Económica Regional, ao abrigo do Protocolo Comercial.
Quanto ao Reitor Couto...hehehe.
Aquilo foi um desastre grande.
Innovative Teaching is that makes (brings) money into the University. Até traduziu isso: ensino inovativo é aqu~ele que dá dinheiro. Depois criticou o ensino vigente. Que não dá dinheiro nem mete projectos. Por essa razão, apelou os colegas (docentes) para mudarem os curricula.
Coisas de alguem que na verdade, está preocupado em "combater a pobreza".
Eu nunca concordei com esse tilo de alargamento do ensino superior. Sabe em que condições se estuda na Escola de Ciências Marinhas em Quelimane? Piores, que só lembra tempos da escola secundária Samora Machel, na Beira.
Estou cada vez mais céptico em acreditar nessa nova equipa gestora da UEM. Isto está a afundar cada vez mais!
O que está a contecer na verdade é um negócio dos chineses. E não dos moçambicanos. Ninguém conhece os contornos desse memorando e a Universidade Sichuan sairá a ganhar com isso. É o dinheiro do Estado que se gastará em prestações de dívidas, para no fim descobrirmos que afinal não é falta do conhecimento mas sim das nossas opções políticas.
A Universidade não precisa de combater a pobreza desta maneira. E estamos cansados em falar disso.
Um abraço.
Somos pobres, mesmo! E o pior é que nem sequer sabemos que nãp sabemos que nossa maior pobreza não aquela material. Nossa pior pobreza é de pensamento. Não me refiro ao pensamento instintivo, que para isso basta ser humano. Refiro-me ao exercício racional de pensar organizado. Raciocinar, para colocar melhor os nossos problemas. Essa é nossa maior sina. Um dia alguém achou absurdo quando defendi que o maior empecilho para o nosso desenvolvimento não vem daqueles camponeses que até sabem o que fazer todos os dias quando acordam. O maior empecilho vem daqueles que supostamente pensam que pensam os nossos problemas. O pior é que seu pensamento instintivo, espontâneo, e não organizado, é mistificado, sacralizado e passa como conhecimento verdadeiro, cientifico e embrulhado com o espirito messiânico de querer ajudar os tais pobres a sair da pobreza. Estamos lichados com licha grossa!
Pelo que tenho notado, nos últimos 15 anos, para Mocambique tem entrado muito dinheiro e se fosse bem gerido teriamos atingido um nível considerável de alguma coisa que tivesse um nome que lhe merecesse. Mas não é isso.
Ora, o reitor padre Couto sabe que o problema nosso não é falta de instituicões de agronomia, pois ele tem na UEM uma faculdade e teve na UCM em Cuamba. E como o Egídio diz, o Ministério da Agricultura tem qualquer coisa dessa. Tanto ele como os governantes sabem que há questões de professores e suas movimentacoes tanto nacionais como visitantes que deverão colaborar com o tal instituto. Isso implica custos que deviam ser racionalizados...
Porque já não consigo mais, só resta-me perguntar se é que é isso que realmente nos falta? Uma reflexão importante é o que Silvério Ruanguana disse que havia menos engenheiros
quando se construiu a Cidade do Maputo que os que os existem hoje. O mesmo podiamos falar de agrónomos e institutos de investigacão.
Sempre pensei que se queremos formar pessoas produtivas é necessários olharmos pelos ensino até ao nível secundário.
AA
Estamos todos sem saber por onde começar.
Mas há uma coisa que estou a ver ao longo dos 2 anos e meio desta Governação.
Na verdade este é um Governo de REMIX, se quisermos usar a linguagem dos "discos" ou gira-discos.
A originalidade dessa governação reside na capacidade de dar as mesmas coisas ou mesmas intenções, nomes diferentes.
Ou seja, buscam declarações enunciadas há muito tempo e dão-nas novos nomes. Em inglês este procedimento se chama REHASH.
Por exemplo, fala-se agora em Revolução Verde e o combate à Pobreza: Samora Mchel já tinha sobre isso falado e declarado a década de 80 como a da vitória sobre o subdesenvolvimento.
Quando se fala do combate ao espírito de deixa-andar; Samora Machel o apelidava de Espírito de Rotina, Relaxamento e Desleixo.
Tudo um autêntyico remix. Pior, quando formos a ver os instrumentos de que se munem para materialixar os slogans...desgraça.
Eu estou tonto.