Eleições Provinciais 2007: O Boicote está no princípio

Os doadores não querem dar dinheiro; os muçulmanos não querem votar; o Conselho Constitucional já disse que não é recomendável ter eleições em tempo chuvoso. E ainda não sabemos o que pensam os camponeses e os pobres. É tudo reflexo de falta de diálogo.
SMS de um amigo, ontem, 11.07.07, 20.16 horas

O canal da Televisão privada Stv noticiou ontem que O Conselho Islâmico de Moçambique-CISLAMO mostrou-se preocupado com a data da realização das eleições provinciais marcadas para o dia 20 de Dezembro de 2007 pelo facto desta coincidir com a celebração do Ide Al-Adhá, cerimónia que marca o fim da peregrinação á Macca (ou Meca, como os moçambicanos gostam de chamar). É que de acordo com Sheik Abdul Karim Nordine Sau, Vice Presidente da CISLAMO, o Ide Al-Adhá é a segunda maior festa do Islão e que nenhum muçulmano gostaria de perder. Ela começa com as primeiras orações logo pela manhã, seguindo-se de sacrifício de animais (para os podem, que por sua vez dividem com os que não têm), seguindo-se a visitas aos familiares, cemitérios, almoços e jantares em família.
Normalmente trata-se de um dia feriado para os muçulmanos, que o devotam às rezas e aos convívios. Sau lamenta igualmente o facto de não se ter tido em conta este aspecto, aproveitando a ocasião para concordar com a posição do Partido ALIMO (Aliança Independente de Moçambique), que expediu uma exposição ao Presidente da República apelando ao adiamento da data, não para antes do dia 20 mas sim para depois desta data.

Cálculos
Sabendo-se da rigidez da doutrina islâmica, está cada vez mais claro que grande parte destes não terão tempo para exercer o direito de voto, principalmente por duas razões:
1. Logo pela manhã, tempo que estes poderiam aproveitar para votar, os muçulmanos estarão a rezar, acto que provavelmente termine lá para as oito horas, dependendo de cada Mesquita, ao que logo se seguirá o ritual de sacrifício de animais. Neste, os pobres não quererão perder a carne, pelo que esperarão até a sua divisão. Outros, esperarão ainda pela distribuição da comida que se procederá nas respectivas Mesquitas. Este processo pode levá-los até as quinze horas, altura em que quase as mesquitas começam a esvaziar-se, sem contar com os outros, que preferirem comemorar em suas respectivas casas! É importante notar que nestes festejos (todos), não só são convidados apenas os muçulmanos. Estão igualmente convidados todos os amigos dos muçulmanos e seus respectivos familiares! Um aspecto a não ignorar.
2. Sabendo-se da desorganização das nossas Assembleias de Voto (abertura tardia, confusão dos cadernos eleitorais, ausência da polícia e de kits (urnas e resto do material eleitoral), falta de carimbo ou da tinta indelével, etc), a ninguém interessará, principalmente aos muçulmanos e seus amigos e familiares pararem por longas e longas horas na fila sem nenhuma presumível hora do início do processo de votação. O que estou a tentar dizer aqui é que, dependendo da organização ou desorganização do processo eleitoral, os muçulmanos e amigos poderão abandonar as filas para priorizar outras tarefas e afazeres, tal como tem sido a experiência dos últimos processos eleitorais.
Há igualmente uma outra evidência que melhor espelha os meus receios: numa entrevista exploratória, a Stv constatou que os muçulmanos prefeririam priorizar as comemorações do Ide Al-Adhá à ir votar. Como um dos entrevistados testemunhou, "irei votar quanto tiver tempo, depois das cerimónias do Ide."
3. Há um outro factor a considerar: dependendo dos factores climatéricos, o processo pode ainda ser bem ensombrado: não se sabe se choverá ou não, mas está claro que o período é chuvoso.
Entre assar a minha carne e beber o sumo doado pelos meus irmão muçulmanos à molhar-me à chuva, eu preferirei a primeira opção. Afinal de contas, para mim, estas eleições não são relevantes.
Não se esqueçam, os muçulmanos constituem 17 % da população moçambicana segundo o II Censo Populacional. E a província de Nampula, onde todas as forças políticas, Frelimo e Rennamo apostam, é maioritariamente professante desta religião.

Comentários

Anónimo disse…
Caro Egídio,
Como diz o nome de um blog que sei que visita, vou ser Curto e Grosso, se me permites.
É o seguinte, a percentagem da população muçulumana tende a crescer, e em termos religiosos são fervorosos, é quase certo que não irão votar nessa data, porque estarão na celebração do seu ide.
Por outro lado, há uma enorme probabilidade de a data ser alterada, pois o nosso "Foguinho" está muito ligado à cominidade muçulumana (MBS, Kayums e companhia) e não lhe interessa agora entrar em atritos com eles, porque pode não ter quem lhe compre o próximo cachimbo a leiloar.
Tenho imenso respeito pela comunidade muçulumana, e concordo com o adiamento da data das eleições.

LV
Egidio Vaz disse…
Isso é que é ser curto e grosso mesmo. Mas não caro Leonardo.Você foi igualmente claro e directo e certeiro.
Há a probabilidade de a data ser alterada. Não so pelos motivos que eu e você mencionou como também por temer essa comunidade religiosa. Imaginas toda a Nampula paralisada? Quem quererá perder os macuas?

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