Não será a criminalidade violenta em Maputoefeito visível do mundial de 2010 na África do Sul?
Sem mais delongas, eis o texto:
Depois de, há alguns meses, terem-se registado assaltos a dois bancos comercial na cidade de Maputo, designadamente a uma dependência do Banco Comercial e de Investimentos (BCI) e a uma outra do Standard Bank, eis que um caso similar se regista algures na Machava, no Município da Matola, com o assalto à agência local do Banco Austral, isso há não mais de 20 dias.
Tendo fé no que os media noticiosos informaram, citando, inclusive, fontes policiais, no assalto recente ao Banco Austral na Machava os criminosos ainda fizeram “espectáculo”: ordenaram os dois guardas que estavam no local a lhes passarem as armas de fogo que traziam, tendo depois os mandado desaparecer daquele local, ao que aceitaram, temendo, obviamente, que fossem na hora mortos.
Nos últimos dias abundaram, em demasia, crimes violentos, alguns dos quais tendo alguns agentes da polícia como protagonistas. Refiro-me, por exemplo, ao espancamento a que foi sujeito o advogado Aquinaldo Mandlate, em plena esquadra policial. Se alguém que trabalha, no seu dia a dia, com leis, é sujeito a coisas tais, não é difícil acreditar que possam existir, aos milhares, centenas de cidadãos anónimos que sofrem situações idênticas.
No meio disso, há tantos outros casos, como o daquele jovem que, quando interpelado por um agente da Polícia de Trânsito, nada mais fez senão disparar, logo que o achou oportuno, um tiro mortal ao polícia em causa. Na Machava, qual “caldeirão do crime” – os dois últimos agentes da “Brigada Mamba” foram assassinados em plena Avenida das Indústrias, à luz do dia –, uma viatura foi crivada de balas algures nas imediações da dita Cadeia de Máxima Segurança, vulgo BO.
Estes casos todos sugerem, quanto a mim, que a Polícia não tem estratégia alguma para conter a onda de criminalidade violenta existente em quase todo o país – até ambulâncias e celulares de parturientes não escapam aos dinâmicos criminosos –, ou, se a tem, ela deve ser muito fraca. Agora, os agentes de patrulha já andam “escoltados” por militares, o que pode não passar de um exemplo clássico de tapagem de sol com a peneira, como diz um ditado popular.
A mesma “Brigada Mamba”, que fora criada por José Pacheco, ministro do Interior, supostamente para “estancar a criminalidade” na Cidade de Maputo, acabou morrendo de morte não natural, o que foi confirmado pelas próprias hierarquias policiais. Esta extinta unidade iniciou as suas actividades de uma forma tão agressiva, usando estratégias de guerrilha e não necessariamente policiais para “trabalhar”. O resto é o que se sabe por demais.
Como bem o disse o sociólogo Carlos Serra, em declarações à última edição do SAVANA, o que se está a verificar denota que a situação deve ser estudada, o que deverá partir, segundo ele, pelo estudo das condições sociais que “fertilizam o terreno para o florescimento da criminalidade”.
Concordo com a sugestão de Carlos Serra, dado que, estudando primeiro o fenómeno, jamais teríamos soluções para problemas que não são os que achamos que estão lá. A prova desse tipo de mentalidade pode ser encontra no que José Pacheco disse ao “Notícias” de 29 de Junho último:
"...os casos de assassinatos de parte dos elementos da Polícia da República de Moçambique reflecte exactamente o “terrorismo” que os malfeitores têm estado a semear contra as forças da lei e ordem. Por este motivo (...) a Polícia irá responder, também de forma violenta, a todos aqueles que empunham armas para o cometimento de delitos”.
Bush, o George, está a aumentar o número de aliados! Talvez fosse oportuno, já agora, que o ministro do Interior lesse ou relesse – se bem que já o fez alguma vez – a obra “A Arte da Guerra”, escrita há cerca de 2500 anos por Sun Tzu, um general chinês. No sexto capítulo desse livro, que se dedica aos pontos fortes e fracos, Sun Tzu diz que “aquele que ocupa o campo de batalha primeiro, e espera o inimigo, estará descansado; aquele que chega depois e se lança na batalha precipitadamente, estará cansado”.
O pior aqui será, a meu ver, José Pacheco e os seus ainda não terem chegado ao “campo de batalha”, cujo terreno pode ser acessível, traiçoeiro, duvidoso, acidentado, distante ou estreito, como precisa o autor da obra “A Arte da Guerra”, que é, em não poucos quadrantes, de leitura obrigatória para pessoas que ocupam pelouros sensíveis.
Se eu tivesse que fazer uma pesquisa em torno das possíveis causas da criminalidade hoje no país, muito particularmente na cidade de Maputo, confesso que não hesitaria em ter como uma das hipóteses o facto de a vizinha África do Sul estar a sofisticar os mecanismos de combate à criminalidade, sobretudo a violenta, como parte dos preparativos do mundial de futebol que ali se realiza em 2010, ou seja, dentro de sensivelmente três anos.
Depois de ter recebido várias críticas do Ocidente, segundo as quais aquele país não poderia organizar um bom campeonato do mundo, mormente devido à criminalidade, começaram a surgir acções de vulto tendentes a criar uma efectiva ordem e tranquilidade públicas. Isso implicou, obviamente, a aprovação de “chorrudos” orçamentos para a viabilização dos planos traçados.
Para o pleno acolhimento do mundial de 2010, o governo de Thabo Mbeki aprovou uma verba de dois biliões de dólares norte-americanos e, desse montante, perto de 25 porcento está a ser aplicado no combate à criminalidade. Os que, como nós os outros, tem se dirigido àquele país com alguma regularidade, hão-de ter notado, por estas alturas, que está a ser feito um forte investimento no domínio da segurança pública, havendo até, actualmente, vigilância por helicópteros e com recurso à computação.
Desde o ano passado até 2010 serão recrutados, naquele país, pelo menos mais 10 mil oficiais da polícia e outro pessoal para o judiciário, tudo para fortificar os sistemas de segurança e judiciário. A par disso, tantas outras coisas estão a ser acondicionadas naquele país, como seja acomodação para os cerca de 350 mil adeptos de futebol que se espera andem por lá por causa da festa da bola.
Antes de acções claras de combate ao crime violento serem visíveis na África do Sul, começavam já a surgir alguns países a se oferecerem a acolher um mundial de futebol digno desse nome, de entre os quais se destaca a Austrália. Mas, no mês passado, sonhos tais se podem ter esfumado de vez, dado Joseph Blatter , o homem forte da FIFA, ter afirmado, no final da sua visita àquele país, que estavam já reunidas condições para que as coisas corressem de feição, isso em termos de estádios (cuja construção está a decorrer a bom ritmo), transportes públicos e ordem e tranquilidade públicas.
Infelizmente, nós, cá deste lado, estamos somente preocupados em construir um estádio moderno de futebol, para que possamos ter algumas equipas hospedadas no nosso país. Isso é efectivamente bom, mas não é tudo. Afinal, como diria o outro, não há bela sem senão.
Por ora, eu vou assumindo, por hipótese, que a subida de crime violento na Cidade de Maputo pode ser directamente proporcional ao endurecimento das medidas de segurança na vizinha África do Sul. Quem sabe se as gangs que por lá anda(va)m não envolvem “especialistas” de vários países da região, incluindo Moçambique? Se esse for o caso, será óbvio concluir que, no exercício tendente à descoberta de “novos mercados”, a Cidade de Maputo não teria como ser posta de fora.
Para os quiserem ler em casa, importem daqui
Comentários
Abraços!
o salema provoca um debate interessante.
E podes estar certo que vou voltar, muitas vezes :)
Este texto não poderia ser mais ilustrativo. Concordo plena e completamente, e tenho a acrescentar um factor facilitador. É a aberturas de fronteiras entre nossos paises!
Assim os bandidos Sul Africanos podem vir para cá passear à vontade!! O que sugeria (para não estar só a criticar) era uma troca de experiências entre os 2 países, já que o método dos nossos vizinhos parace estar a surtir efeitos positivos, e aproveitando que o PR Moçambicano pretente encrementar a PRM, esta era a altura indicada...
Mas valeu: afinal, estavam em Lisboa. Era tudo o que queriam.
O mesmo acontece nas hostes policiais.