"Estamos Numa Boa"

Ou, da necessidade de Verdadeiros e Sérios Assessores de Imprensa e Comunicação nos Ministérios.

Este texto vem a propósito de um post que o meu amigo e ilustre blogger, Jonathan MacCarthy publicou lá vai aproximadamente uma semana. O post, com o título bem apelativo chama atenção às entidades do Ministério de Ciência e Tecnologia sobre um facto no mínimo bizarro e criminoso que vem se desenvolvendo desde o ano passado, girando em torno das 50 bolsas de estudo concedidas pelo Governo brasileiro ao governo moçambicano. Não farei bom resumo neste espaço, mas, para que fique registado eis o cerne:

a) O Governo do Brasil concedeu 50 Bolsas de Estudo ao Governo Moçambicano

b) O Governo aceitou (aliás, foi ele quem as pediu) moçambicano lançou um concurso, chamando a todos os interessados a concorrer

c) Foram apurados ainda ano passado todos os cinquenta candidatos

Porém....

d) A lista de apuramento final apenas saiu faz sensivelmente duas semanas, numa altura que apenas faltam escassos dias do início das aulas no Brasil (este mês)

e) O governo brasileiro não pagará as passagens dos bolseiros - e o governo moçambicano já sabia aquando da assinatura do convénio mas os bolseiros ou concorrentes não o sabiam. Porém, quanto a este assunto, o Ministério diz que não tem dinheiro para pagar as passagens dos bolseiros (informação prestada tardiamente) e que os estudantes interessados deveriam sozinhos pagar essas passagens avaliadas em US$ 2. 500.00.

f) Este é o período de pico em relação a voos para cidades brasileiras, por causa do Carnaval. Portanto, está difícil não só arranjar esse valor em duas semanas como também encontrar lugar nos voos. Pior, em duas semanas, os interessados deverão decidir muita coisas para as suas vidas...continuem no blog dele.

Para agravar

g) No Ministério, o chefe que lida com essas coisas está de férias incontactável/incomunicável

h) MacCarthy está aí a fazer uma interessante análise, aproveitando a ocasião para mostrar a sua frustração com a pessoa do Ministro da Ciência e Tecnologia e o resto da sua equipa (incluindo seus assessores de imprensa e comunicação, se existem; objecto da minha análise aqui).

Há sete dias que este texto anda por aí a circular, e nenhuma reacção pública se fez sentir; nenhum esclarecimento sequer, mesmo um comunicado politicamente correcto foi emitido. Tratando-se da internet, o Governo brasileiro bem como as universidades onde estes estudantes estão para ir estudar já sabem, porque MacCarthy já escreveu. Já leram e ...não sei o que estão a fazer/fizeram ou disseram aos estudantes para fazer.

Porém, temos tantos assessores que aureolam o Ministro da Ciência e Tecnologia! Surpreende-me também o silêncio deste Ministério, que, perante assunto tão grave como esse, e que veio a público através de um blogue, o nosso Governo, mas principalmente o Ministério da Ciência e Tecnologia não tenha feito nada. Para perceber bem o meu ponto gostaria de esclarecer porque esse assunto é grave e merecia uma reacção urgente pelo Ministro, coadjuvado pelos seus Assessores:

1. IMAGEM DO ESTADO E GOVERNO MOÇAMBICANO ESTÁ EM CAUSA

a) Por se mostrar não sério: O Governo Moçambicano anda em várias demarches pelo mundo fora em busca de ajuda para a solução de seus vários e infindáveis problemas, dentre os quais o ensino. Aparece Brasil e decide ajudar, oferecendo 50 bolsas de estudo anuais para o Brasil. O governo aceita, e decide lançar o concurso para provimento das mesmas. Consumado o facto, eis que o governo decide ir “brincar ao baloiço”. Ganha tempo e apenas divulga a lista dos apurados há escassos dias do início das aulas com todas as imperfeições que o processo acarretou.

b) Agora, grande parte desses bolseiros correm o risco de desistirem dadas as causas relevadas em alíneas estabelecidas na parte introdutória do texto. E a acontecer, constituiria um facto decepcionante tanto para o Governo brasileiro como para os próprios bolseiros em particular.

c) É que ao reservar 50 lugares para moçambicanos irem estudar, o Governo Brasileiro, na verdade retirou essa oportunidade a 50 brasileiros que também mereciam estudar de graça, porque seu direito; porque também pagadores de impostos e demais razões óbvias. Mas, em nome da solidariedade, o Governo brasileiro preferiu ajudar-nos, dando a oportunidade de também incrementarmos o nosso caudal de pessoas com formação superior. Porém, já que o nosso Governo é mesmo nosso (Mwathu Muno), esse decidiu mostrar aos brasileiros a nossa versão de seriedade, deixando tudo para o fim e os bolseiros seleccionados à sua sorte.

d) Na década de 60 do século XX o governo da República Unida da Tanzânia e outros concederam-nos seus territórios para treinar soldados e a partir deles, organizarmos a luta pela libertação nacional. Imaginem se Mondlane, Samora, Guebuza e Marcelino dos Santos; Chipande, Urias Simango, em vez de organizarem o trabalho, soldados e mobilizarem apoio a partir destes territórios, se dedicassem à uns negócios quaisquer; em vez de usar as armas doadas para o combate, usassem-nas para a caça de alguns animais herbívoros e só quando surpreendidos pelo inimigo, fossem usadas para se defenderem! Já agora, imaginem se na década de 80 do século passado Mugabe e outros camaradas que faziam de Moçambique sua retaguarda segura na luta pela libertação da sua pátria, imaginem, dizia, se em vez disso, eles se dedicassem a dar aulas de inglês nas escolas de Manica, Sussundenga, Machaze, Guro, etc!

e) A comparação pode parecer bizarra mas é séria. É que neste momento, a guerra que nos resta é esta: correr contra o tempo rumo ao alcance da emancipação científica; pedra de toque para alavancarmos o tal almejado desenvolvimento com a inovação tecnológica e científica entre outras. E Brasil e outros países do sul estão a capitanear esta guerra tentando ao mesmo tempo puxar outros irmãos como nós. Só que já que em Moçambique, mas principalmente na óptica dos funcionários do MCT responsáveis pelas bolsas, esse esforço é “meaningless”; agradecemos o gesto com circo deste jaez! Lançamos um concurso e esquecemos; acordamos tarde e anunciamos as classificações há dias do início das aulas, para coroar, não fornecemos informação pertinente aos concorrentes e são surpreendidos com a informação de que precisam urgentemente de desembolsar US$ 2-500-00 para poderem voar a Brasil e o Estado nem está ai...! Do MCT, ninguém está, o chefe está de férias e incontactável; pior, ninguém mais sabe do assunto, a não ser ele!

2. O MINISTRO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA PODE SER VISTO COMO UM DIRIGENTE QUE NÃO TEM CONTROLO SOBRE O PELOURO QUE DIRIGE. E em política e na vida, “não basta que a mulher de César seja justa, é preciso que também pareça”

Como foi possível deixar este texto rolar por tantos dias sem nenhuma reacção que até podia ser num jornal local ou no sítio do Ministério? Onde andam os assessores de imprensa e comunicação? Quais são os seus Termos de Referência afinal? O que fizeram quando viram ou leram este texto e souberam desse problema? O assunto já é do domínio público, será que se preocuparam em informar não só os directamente visados mas também o grande público? De que forma?

A) Afinal, Assessoram o quê esses senhores?

B) Este chefe que desde que saiu de férias até hoje não voltou (o que é perfeitamente compreensível e está no seu direito gozar férias), afinal não delegou responsabilidades a outra pessoa, ou só ele é que sabe, como é comum em Moçambique, onde, às vezes a máquina funciona com a presença de um chefe, porque só ele sabe como fazê-la funcionar!

C) Um assessor de imprensa sério deveria ter notado e interceptado este texto há muito. E não precisa ser feiticeiro para rastrear toda a informação acerca de um determinado ramo de actividade, neste caso MCT. Há muitas formas disponíveis e tecnicamente viáveis para que um assessor SAIBA TUDO SOBRE O SEU MINISTÉRIO LOGO PELA MANHÃ A PARTIR DO SEU TELEMÓVEL!

D) E a primeira coisa seria mesmo reunir e esboçar uma espécie de resposta/clarificação da situação, os contornos por que se cose o assunto e as acções levadas a cabo pelo Ministério e Ministro para lidar com ele.

E) Mas não, os senhores assessores, preocupados com “outras questões importantes”, pensaram que o assunto é para miúdos frustrados; bastasse que o Ministro não soubesse menos um trabalho para eles. Era imperioso que o Ministério viesse a público esclarecer esse assunto, fazendo o uso dos mesmos canais ou melhores que este, para divulgar a sua resposta; a sua versão de factos. Não basta ser jornalista (da velha ou nova guarda) no activo (fazendo a assessoria às escondidas) ou no inactivo, mas frequentando com regularidade o bar e a esplanada do SNJ para ser visto e “influenciar” os colegas para “ “verem o que escrevem sobre o seu chefe” para se ser um assessor de imprensa. Essa não é assessoria de imprensa. É pleo contrário, FOFOCA.

A Assessoria de Imprensa exige um trabalho sério, com objectivos corporativos bem definidos e um calendário de actividades claro. Não basta subsidiar visitas de campo a jornalistas e fazer lobbies nos meandros jornalísticos, para que o Boss sobressaia muitas vezes, para se considerar bom assessor. Há muitos ministros e dirigentes neste país, com bons assessores de imprensa e comunicação, que não precisam de aparecer em tudo o que é evento para tirar a foto, inclusive na inauguração de uma simples Internet Café!

3) QUEM CALA CONSENTE E A HISTÓRIA REGISTA

O comportamento dos assessores de imprensa e comunicação do MCT pode tornar a vida política do Ministro da Ciência e Tecnologia muito complicada exactamente pela sua omissão ou inacção em relação a capacidade de comunicação e satisfação de vários públicos. Afinal, ser Assessor de Imprensa e Comunicação de um Ministério implica saber comunicar com vários públicos, principalmente com o grande público, através de provimento de canais de comunicação apropriados e eficazes, através dos quais o povo fica a saber o que o Ministério está a fazer, como e porque o faz e quais os resultados que se esperam, para além de, regularmente consultar esses mesmos públicos para saber o grau de satisfação com os serviços prestados, por via de inquéritos apropriados. Em situações como a que despoletou esse debate, os assessores de comunicação deviam aconselhar o Ministério a dar alguma satisfação. A isso se chama prestação de contas e responsabilização; accountability em inglês, essa é uma das principais funções de Comunicador de uma instituição como MCT: promover e gerir a boa imagem da instituição bem como criar mecanismos de prestação de contas e de boa governação através da comunicação e informação a vários públicos: parlamento, povo, doadores, sociedade civil e outros grupos de interesse. E o que o que os senhores do MCT acabam de fazer é exactamente o oposto. Em governos sérios, alguém (ou alguns) devia(m) cair!

4 CUIDAR DA IMAGEM DE UM GOVERNO NÃO É FÁCIL

Esta secção é geral: Bayano Valy já falou disso e não voltarei a repisar. Em Moçambique temos tudo a acontecer como o Diabo quer. Sem regras. Os cidadãos usam o brasão, a bandeira como querem; inclusive a figura do Presidente da República. Vi há poucos dias um conjunto de capulanas com a cara do Presidente da República a venda numa das lojas do país.

Está cada vez mais difícil distinguir o verdadeiro brasão do falso; as verdadeiras cores da nossa bandeira doutras parecidas! Enfim, carece este país, de um quadro legal para regular os padrões de identidade das instituições do Governo. Por exemplo, não sabemos qual é a letra oficial estabelecida para a redacção de toda a documentação no Ministério da Ciência e Tecnologia: Arial? Que tamanho? Quando pode se usar o papel timbrado? – já vi um funcionário a usar papel timbrado de um ministério como garantia para contracção de uma dívida. Quando usar o brasão ou a bandeira? Quem deve usar os modelos de apresentação (templates) do Governo? Quais as cores da nossa bandeira; aliás, qual é a sequência das cores (cymk) e palete? Qual é o tamanho mínimo e máximo que os logotipos do Governo devem levar e em papel de que tamanho? Como devem ser identificados os carros do Governo? Devem levar o timbre de ESTADO ou matrícula rebitada ao lado?

Por último: é permitido que um cidadão costure e ofereça bandeiras nacionais às esquadras? Ou que um empresário ofereça motorizadas à Polícia da República de Moçambique? Ou um empresário organize um Natal Polícia numa cidade? Onde está a integridade do estado aqui? E onde está a identidade? O que diferencia um estado de uma entidade não governamental, do tipo ONG?

Remate:

Foi por esses e outros tipos de (des)organização que numa destas vezes, a nossa selecção de futebol, Mambas, levou consigo e pôs a tocar o Hino Nacional da Autoria do Falecido Maestro Chemane (Viva Viva a Frelimo) numa altura em que já estava em vigor o novo (Pátria Amada).

Adenda:

Comentário de um dos afectados:

"Eu sou um dos bolseiros que ganhou esta bolsa, e de factro é uma vergonha.Tem colegas que já avançaram com seus proprios meios para o brasil e o que encontraram lá não foi bonito:1 - A universidade n os aceitou pois n tinha nada comprovado k de facto o governo brasideiro deu bolsa pk o MCT não mandou a lista dos bolseiros para lá.2 - O CNPq não pode dar bolsa pk o MCT não mandou a lista dos nomes dos selecionados.3 - So Hoje dia 10 é que o Mct mandou os nomes, e deve esperar até ter resposta do CNPQ, isso pk o embaioxador do brasil teve que intervir, pois os 10 alunis ja est~ºao passando fome no brasil."

Comentários

Bayano Valy disse…
hehehe,

voltaste mais ríspido. e ainda com um novo nome. já vais na terceira geração, pelos vistos. depois volto.
abraços
Egidio Vaz disse…
BV,reconheçomque tenho sido preguiçoso nos últimos dias. Mas estou esforçando-me para a partir de agora avançar e postar c regularidade.
Aguardo a sua reacção.
EV,
Obrigado pelos elogios e por nao abdicares de exercer o teu dever de cidadania! E' preciso questinar, questionar sempre!
Se esta sociedade continuar desatenta, entao sera' merecedora da sua fatalidade!

"O silêncio dos povos é a manjedoura dos tiranos" (Emilio Marchi)
Anónimo disse…
Eu sou um dos bolseiros que ganhou esta bolsa, e de factro é uma vergonha.
Tem colegas que já avançaram com seus proprios meios para o brasil e o que encontraram lá não foi bonito:
1 - A universidade n os aceitou pois n tinha nada comprovado k de facto o governo brasideiro deu bolsa pk o MCT não mandou a lista dos bolseiros para lá.
2 - O CNPq não pode dar bolsa pk o MCT não mandou a lista dos nomes dos selecionados.
3 - So Hoje dia 10 é que o Mct mandou os nomes, e deve esperar até ter resposta do CNPQ, isso pk o embaioxador do brasil teve que intervir, pois os 10 alunis ja est~ºao passando fome no brasil.
Maquiti disse…
Muito triste...este tipo de situação é normal nas bolsas para Cuba, bolsas do Ministerio da Defesa...até que um dia foi expulso o Mataruca (ex-chefe dos Recursos Humanos daquele Ministerio,

Os estudantes sempre pagaram as suas passagens sozinhas...este governo esta doente...

Maquiti

Mensagens populares deste blogue

Gwaza Muthini, na forma como a conhecemos hoje é um BLUFF HISTÓRICO.

Três opiniões diferentes sobre o TSEKE