Pães políticos e sanduíches discursivas

Um olhar a política moçambicana e seus actores. Antecâmara para as eleições gerais, legislativas e provinciais de 28 de Outubro

Há poucas horas de tomar o voo de volta a pátria, acho justo, depois de um longo período de silêncio, tecer algumas considerações sobre a política e seus actores em Moçambique. O meu último texto original foi em relação a fuga sistemática de Afonso Dhlakama aos jornalistas ante a tantos suicídios políticos que cometera nos últimos dias. E parece que continuará a cometê-los, desta vez sem tanta audiência que vinha tendo, devido a entrada de outros actores que parecem estarem a lhe tirarem o tapete.

O presente artigo pretende lançar mais uma vez um olhar desesperado sobre o desempenho de alguns políticos e seus partidos nos últimos anos e assim vaticinar os resultados que se lhes esperam nos próximos pleitos eleitorais. Começarei pelos menos interessantes e terminarei com o mais interessante; portanto, Frelimo e Armando Guebuza e Afonso Dhlakama, respectivamente.

Frelimo e Armando Guebuza

A Frelimo e Armando Guebuza parece-me terem sido dois actores políticos que mais destaques mereceram nos últimos anos, tanto pelos bons como pelos maus motivos. Acontecimentos graves marcaram a sua governação: incêndios nos ministérios de Agricultura e Finanças e outros estabelecimentos públicos bem como o incêndio do Paiol de Malhazine, que vitimou dezenas de mortos, feridos, desalojados, órfãos e muita destruição. E como bolo por cima da cereja (e não cereja por cima do bolo), nenhumas consequências políticas se extraíram destes actos macabros.

A Governação de Armando Guebuza e a Frelimo também foi marcada por atropelos crassos aos direitos humanos, como sendo os casos das mortes de prisioneiros de Mongicual por asfixia e outros maus tratos, como aliás bem documentam os caos dos polícias recentemente condenados a prisões maiores, sem nos esquecermos do recente caso que julgou e condenou o antigo chefe da PIC a nível da cidade de Maputo.

Um outro aspecto dessa governação que entrará na história é o facto deste Governo ter mandado a prisão, uma quantidade considerável de membros componentes do antigo governo de Joaquim Chissano, mas que agora estão, um por um, a saírem em liberdade por deficiências de instrução preparatória de processos-crime que os levou a prisões preventivas.

E por fim, só para mencionar alguns aspectos, o Governo da Frelimo é provavelmente o único na história recente do país que mais idolatrou o seu líder, O Führer Armando Emílio Guebuza. Este sim, em poucos anos viu o seu nome e o da Primeira-dama, sua esposa, chamados a crianças de todos estratos sociais; campos de futebol tanto pelados como relvados, hospitais, escolas, tanto secundárias como primárias; praças, pracetas; Associações de Camponeses, Cooperativas; Associações Juvenis como não; Obras Públicas e, o mais cómico, O GUEBUZA SQUARE, localizada no interior do Supermercado Maputo (chamam-lhe por Hiper Mercado), vulgo Maputo Shopping. De Square nada tem, para além de um palanque onde dançam algumas crianças, muitas cadeiras onde sentam algumas pessoas dentre elas trabalhadoras do Shopping para fumar, beber alguma cerveja e, as vezes assistir algumas gravações (em diferido) de programas de TV.

A personalidade de Armando Guebuza sai mais reforçada neste mandato que a de qualquer outra instituição ou pessoa em pleno exercício presidencial desde que Moçambique conheceu a sua independência. Aliás, como também fruto do reforço do poder do Partido Frelimo, que numa cajada conseguiu silenciar a oposição - desferindo três golpes mortais ao PDD, Renamo e PIMO e sua Oposição Construtiva; a sociedade civil e o próprio Governo; tendo estendido a sua influência para o âmago do aparelho do Estado, descaracterizando-o.

Assim, temos um aparelho de Estado acéfalo; um governo amblíope e um partido Frelimo embriagado de tanto poder. A política não faz sentido por tão desmoralizados estarem os partidos da oposição. Aliás, quero aqui fazer uma clara distinção entre Partido da Oposição do Partido na Oposição. Yaqub e sua Oposição mais 40 outros são da oposição porque não tem nenhuma hipótese de ganhar nenhuma eleição. Portanto, são ocupantes cativos destes lugares. A Renamo já foi Partido na oposição mas parece ter já sido admitida ao grupo dos grandes partidos DA oposição. Temos assim três vazios por preencher. Falarei sobre mais a frente.

Um exemplo elucidativo do quão andam ajoelhados os líderes de partidos de oposição e suas instituições foi aquando a celebração do aniversário natalício de Eduardo Mondlane na sua região natal. Miguel Mobote do Partido Trabalhista, prostrou-se perante a sábia forma como o Presidente da República tem dirigido o país. Eu não sei se ainda precisaríamos de ter este político e seu partido a figurarem nos boletins de voto! É o fim. De Yaqub Sibindy nem falo! Ainda não nos disse se foi ou não aprovado no estágio que desde 2006 esteve a frequentar na Presidência da República. E da Renamo e seu líder? Que sinais de esperança temos, senão a forte convicção partilhada por muitos, de que o líder já chegou onde queria chegar: bem no fundo do poço estando momento bem confortado com o lugar.

Falta mais alguém? Sim, o PDD. Depois de conhecer a deserção de alguns dos seus quadros, mas antes disso, de seus principais arquitectos ideológicos, que hoje sustentam o MDM, nada mais ficou senão o próprio líder e alguns corajosos que apenas se dedicam a gestão e comunicação em tempos de crise. Os mais astutos se filiaram ao MDM, outros capitularam ante a Frelimo e ainda outros se dedicam ao comércio e outro tipo de actividades. É o fim da política. Restaram pães políticos e sandes discursivas, portanto vestígios de um presente que insistem em se identificar com o passado.

São estes vestígios que hoje se confundem com partidos políticos da oposição, são estes discursos que alimentam a alma sedenta da Frelimo que alega estar encarecidamente a procura de partidos de oposição fortes. Em condições normais podíamos hoje declarar esta República um ducado da Frelimo. Sim porque nas condições em que se faz a política o poder só poderá gravitar entre os duques, com os ditos partidos políticos da oposição a servirem de vinho e digestivos, muito importantes para os ceares abrilhantados com contadores de histórias “construtivas” Sibindistas e Mabotistas. Falhamos todos!

A “Sociedade Fardada” que insiste em se chamar de Civil

Uma definição simples de Sociedade civil levaría-nos a perceber que é a totalidade das organizações e instituições cívicas voluntárias que formam a base de uma sociedade em funcionamento, por oposição às estruturas apoiadas pela força de um estado (independentemente de seu sistema político). Tão simples como isso. E nos não temos nem um aborto parecido.

O que existe é um pacto conspiratório contra o cidadão moçambicano, que por muito tempo foi levado a acreditar que só organizados em torno de organizações que se pretendiam da sociedade civil é que poderia participar activamente no debate, escrutínio e combate pela boa gestão da coisa pública, formação de uma sociedade activa e um governo responsável e, acima de tudo, responsabilizável. Vivemos tempos tenebrosos em que a própria sociedade civil apropriou-se dos instrumentos de governação do Governo de Moçambique para serem suas agendas, trabalhando a todo custo para a sua materialização. Temos em Moçambique mais de 1000 associações dentre nacionais e internacionais, todas a ajudarem o Governo na luta contra a pobreza absoluta e inspiradas no PARPA, MARP, ODM, etc. Todos estão “ocupados”. Afinal, quem está a escrutinar? Ninguém!

O tripé proposto pelo Yaqub Sibindy está há muito em plena implementação. Em cima os doadores, no vértice esquerdo o governo e no direito a sociedade civil, incluindo o seu movimento cívico travestido em partido PIMO.

Grande parte das organizações da sociedade civil é bastante dependente de financiamentos estrangeiros. As grandes iniciativas excluindo a DFC são totalmente financiadas pelas organizações governamentais do ocidente e tem nos seus contratos-programa com essas iniciativas clausulas claras que denotam um total alinhamento com os planos do Governo de Moçambique. Claro está, nenhum estado estaria disposto a conspirar contra o outro estando através de financiamento directo a organizações nacionais!

Portanto, estamos no fim do dia, todos a girar em torno da mesma roda de fogo; uns mais pertos do vulcão que outros, atados a esta força centrípeta: Estado/Governo/Frelimo.

Um Tornado chamado MDM

Os tornados têm a mania de se acharem muito fortes, e são de facto. Saiba mais sobre eles aqui. Porém, escondem em si uma fraqueza interessante: para que sejam fortes dependem de muitos factores como a direcção do vento, o tipo de nuvens e a pressão atmosférica. Se ao longo da sua evolução um destes elementos mudar de comportamento os tornados definham imediatamente!

O MDM surge dentro de uma convulsão política interessante que não abalou os alicerces do poder do dia. Nem a Frelimo, nem ao seu Governo. Não pode por isso ser comparado com o MDC do Zimbabwe, muito menos com o COPE da África do Sul, e daí extrapolar-se futuros maravilhosos resultados eleitorais, coisa que muitos entusiastas, aliás ideólogos do movimento gostam de fazer e obrigarem-me a aceitar. O MDM ajudou a golpear a Renamo e colocar o seu líder bem no fundo do poço onde actualmente se encontra em profundo repouso. Isso sim, foi efeito mensurável, tangível e sensível que o MDM conseguiu produzir desde que surgiu, adicionando o facto de ter podido levantar um debate nacional sobre a pertinência de uma alternativa política séria e menos corrupta para servir os interesses do país.

Porém, não basta que Daviz Simango seja Edil da Beira e tenha créditos firmados na governação de uma coisa pública ou ter ganhado um gigante com a Frelimo, num município politicamente tão importante como a Beira. É preciso que se tenha tempo e estrutura suficientes para se afirmar politicamente. Parece-me quanto a mim, que Daviz Simango calculou mal o tempo. E, na melhor das hipóteses, suspeito que como Raul Domingos, ele foi enganado por aqueles que a todo custo soluçavam por uma sombra política para no mínimo susterem seus vícios de fazer a política a todo o custo. Se o MDM veio para apanhar alguns lugares na Assembleia da República e se juntar a política activa transijo. Mas pensar em constituir uma alternativa/ameaça real ao poder do dia não passa de simples conjecturas.

Infelizmente não vislumbro nenhuns sinais de mudança na estrutura da nossa sociedade que possam acomodar um processo político producente de um empreendimento político que a médio e longo prazos venha desalojar a Frelimo e seus candidatos do poder. Um milagre estava para acontecer em 1999. Porém não acho que se vá repetir nas mesmas condições. Esta Frelimo está muito séria e muito agressiva.

Os ditos intelectuais não passam de meia dúzia de espertos, que já escreveram estatutos e planos estratégicos para três ou meia dúzia de partidos políticos; não tem ideias próprias e confundem linguagem fina com ciência! Estes nunca mudaram de opinião. E são poucos. Não dão vitória a nenhum candidato presidencial nem elegem deputados, todos juntos. A classe pobre-média, significativa do país, trabalhadora e acerrimamente policiada pelos big brothers do poder de estado/partido e à ele atados a vários tentáculos do edifício estadual, das organizações de sociedade civil e do empresariado, dificilmente pode capitanear um movimento político que busque uma ruptura com o status quo. Mas devia ser este estrato social. Pelo contrário, limitam-se em desabafos e para os que podem cantar, cantam. Os que podem linchar, lincham. Afinal o estado sofre de ambliopia; não vê bem, se vê, já é tarde.

E os pobres vivendo na periferia do poder e dos centros de decisão, que são a maioria? Esses não contam em política. Não são actores de mudança e sim sofredores das consequências; não são fautores da história e sim a paisagem que colori e glorifica a meia dúzia de espertos que se antecipam ao momento; são em suma a carne para o canhão. Este votam. Devem votar. Mas, com todo o respeito, é um voto resignatário que devolve à urnas o cinismo de um estado que periodicamente e por 48 horas lhes concede a condição temporária de cidadãos, esquecendo-lhes logo de seguida cinco anos seguintes. E estes pobres rurais, a maioria sendo analfabeta, consciente deste cinismo, devolve o boletim a proveniência. É u m voto consciente. Mas não de uma consciência politico partidária. É de revolta e de resignação! “O estado pode trazer urnas até a zonas recônditas mas não consegue trazer um caçador para por cobro a felinos que aterrorizam as comunidades e herbívoros que não param de dizimar culturas agrícolas, pondo assim em questão a segurança alimentar “.

E antes que me perguntem porquê esses pobres rurais continuam a votar no partido no poder, respondam-me porque grande parte da maioria da população urbana em Moçambique dá vitória a Frelimo. As razões podem ser diferentes. Mas a lógica é a mesma.

O Futuro em três passos

Brincando a Democracia

Estou quase no fim da reflexão. Como sempre, encho-me de coragem para vaticinar, provocar e criar cenários a partir da realidade actual. E, se calhar, esta é a parte mais interessante. Por isso será curta.

Com o que está acima descrito, podemos facilmente chegar a conclusão de que estamos em Moçambique a brincar a democracia multipartidária. E com razão. Este é um país que em apenas 30 anos passou de vertigem em vertigem; de tumulto em tumulto; de guerra em guerra sem se dar o tempo de perceber a razão e maturar os processos. Muito rapidamente passamos do colonialismo a independência; daí ao socialismo; da guerra de desestabilização e depois da guerra civil; dos processos de transformação social, política e económica; do PRE, PRES, da emenda constitucional, do multipartidarismo e das eleições democráticas.

Imaginem alguém que é raptado na praia e levado para o interior com olhos vedados; depois transportado para o avião, barco, camião, entra dentro de uma casa, sente que está na cozinha e depois termina num talho. Isso tudo dentro de 24 horas de tempo!

Aos 20 anos de Independência Moçambique já tinha passado por três processos fustigantes: socialismo, guerra e reforma! Até 2004, o país já tinha na sua história um Presidente morto, um traído e o terceiro a correr! Não se deu o tempo ao socialismo; não percebemos o comunismo, o PRE pós milhares de trabalhadores na rua e formou-se à força uma burguesia que mal sabia gerir negócios, confundindo sempre a receita com lucro! Mas porque tínhamos que tê-los, foi-se reenchendo os seus bolsos. E logo depois descobrimos que o cabrito deve comer onde está amarrado e que o futuro melhor na verdade não significava o Governo colocar o pão e manteiga a cada mesa mas sim “criar condições favoráveis para”...blaaaaaaa! blaaaaaaaaaaaa! blaaaaaaaaaaaaa!

E agora que estamos a viver 17 anos de Paz ainda não nos refizemos da vertigem. Recordem-se ao tipo raptado que ainda está no talho, a tentar ingloriamente imaginar por onde teria passado e onde estaria naquele momento. Porém, isso irá sair-nos caro. Será necessário, quanto a mim, três passos importantes para termos uma democracia sã neste país: engravidar a Frelimo para nascer o cidadão e nele reencarnar a política de modo a termos um partido no poder e não do poder; partidos na oposição e não da oposição e um estado ao serviço do cidadão.

A Frelimo é um estado travestido em partido: o uso abusivo do património do estado; as reuniões e células dentro das instituições do estado e governo e o dirigismo que se lhe caracteriza assim o atestam.

A Renamo e outros partidos do circo também são da oposição, por terem capitulado abertamente ao combate de ideias. Faltam muitas ideias nas cabeças dos nossos líderes. Ideias que iluminem um novo caminho e traga esperança as pessoas.

E o Estado, esse, não digo.

Engravidar a Frelimo para nascer o cidadão

Dizia na primeira parte dessa reflexão que a Frelimo andava embriagada de poder e sedenta por um “partido de posição forte”. A Frelimo está sim a falar a verdade. E essa tendência irá continuar; a Frelimo irá nos próximos pleitos arrasar sucessivamente a oposição até o ponto de nós moçambicanos sentirmos os efeitos nefastos de ter um sistema político dominado por um único partido aureolado por iniciativas políticas sem expressão. No fundo, a nossa democracia não está amadurecer. Está sim amarelar; sinónimo de um a anomalia irremediável. Deixemo-la amarelar até que caia por si porque desconhecemos a sua proveniência, para dai nascer uma genuína. “A nossa”.

O parto do Cidadão moçambicano

O segundo passo inevitável será o nascimento de uma consciência democrática genuinamente moçambicana, fundada nos alicerces dos nossos pais fundadores como Eduardo Mondlane e outros que sonharam com um Moçambique democrático e multipartidário. Haverá na altura uma ruptura com a actual historiografia; os livros, o ensino e a cultura pelo saber serão movidos pela busca do conhecimento visando uma verdadeira emancipação e não aculturação ou domesticação de saberes e modelos estranhos. Esse movimento será imparável e anunciará o advento da “nossa” Perestroika.

Esse parto não será fácil. Será a cesariana. Precisaremos de sangue adicional para salvar a mãe e o bebé porque precisaremos de ambos. Precisaremos de dadores de sangue e não doadores!

A segunda encarnação da Política em Moçambique

Haverá confusão, como sempre. Alguns irão emigrar. Outros simplesmente irão desaparecer. Mas já estaremos lá. Mudança tranquila. Com partido(s) no poder, partidos na Oposição e um Estado ao serviço do cidadão.

Por outras palavras: é preciso estarmos atentos aos sinais de mudança. Não confundir nevoeiros como o advento da primavera. Para quem quiser fazer política a sério, este é momento exacto para descansar.

Comentários

Martin de Sousa disse…
Interessante reflexão. Pregas, oh Egídio, a falência/inexistência/hibernação da sociedade civil e a necessidade de "engravidar a Frelimo" para "nascer o cidadão", a quem pertencerá o impulso engravidador? Num contexto de vazio da sociedade civil ou desta completamente manientada quem "cruzará" com a Freli para que desse cruzamento nasça o cidadão?
E estas perguntas tem alguma razão de ser Egídio, és céptico em relação aos partidos políticos (a Renamo, o PDD, o PIMO) e aos próprios políticos alguns no fundo do poço e outros em lado nenhum, és igualmente céptico em relação ao MDM para o qual, podem não se verificar todos os factores para que arrase com toda sua força... o que resta?
O Mutisse tem insistido em que não haverá cidadania com os níveis de iliteracia que o país enfrenta. E dou lhe razão. A massa intelectual ou escolarizada é minoritária, urbana e elitista. Não ganha eleições. A massa rural está longe da esfera pública, dos centros de debate, de onde as coisas se cozinham, logo, provavelmente, essa não seja a via do momento. O que é que temos meu caro?
PC Mapengo disse…
É Vaz, mais uma vez vais em contramão e isso é que faz com que sejas o que realmente és. Parabéns mano.
Nkutumula disse…
Viva Egidio. É sempre prazeroso o passeio por estes silvados e baldios. A política é como um terreno movediço e escorregadio. Muito difícil de compreender, muito mais de atravessá-lo e manter-se maculado. Enfim, uma panela de pressão em chama de banho-maria, onde os que lá se encontram têm de trepar aos outros para não queimarem os pés. É difícil… Voltarei… Acabaram-se as balas.
Júlio Mutisse disse…
De facto cidadania sem escolarização equipara-se a tentar fazer omeletes sem... ovos.

Mas tal como o Martin, estou curioso quanto a quem incumbirá o dever de engravidar a Frelimo para nascer o cidadão. Mas, mais do que isso, quero perceber o que é que a Frelimo tem a ver com a "ausência" do cidadão? Porque é que tem que ser a Frelimo a engravidada e não o Estado, que deve propiciar o nascimento do cidadão?
Anónimo disse…
Parabens Mano Egidio por esta belissima provocacao (no sentido positivo do termo). Acredito que ha no teu artigo motivo para muita reflexao e muito debate.

Vou reler o artigo e comentar com mais propriedade.

Mas ago e aqui gostaria de pegar numa questao interessante que Mutisse colocou.
"Mas, mais do que isso, quero perceber o que é que a Frelimo tem a ver com a "ausência" do cidadão?", pergunta ele.
Eu responderia com outra pergunta: interessa ao poder ter cidadaos conscientes de seus direitos/deveres (de facto, nao os que se ditam por ai) com o pais? Ou melhor manter e multiplicar as famosas MASSAS de que tanto ouvimos em discursos politicos? Porque se ouve falar mais de MASSAS, BELISSIMO POVO... do que do cidadao?

Ate breve

Inacio Chire
Milton Machel disse…
Viva, Egidio, pelos vistos nao so fizeste um diagnostico e prognostico sempre com o teu "bisturi de Dr Frankestein" da politica a mocambicana. Tu es um consumado animal politico! E parabenizo-te nao so por esta belisssima analise politica, mas sobretudo porque ressuscitaste um "fantasma politico": o meu amigo Inacio Chire. Hehehe, esta e' mesmo para te provocar Chire. Ja que foste PCN e depois desapareceste de cena, vais te converter em MDM?
Egidio, a tua chamada de atencao ao MDM e' circurgica: eles nem sequer conseguiram estabelecer-se ainda em Maputo. E sequer sabemos se sao "donos de Sofala". E na Zambezia, quando atacam? Havera tempo suficiente para o fazerem, ou estao a fazer uma matematica muito probabilistica e bastante falivel na "hora da verdade"?

Ainda volto,

Aquele abraco patricio e, espero-te,tal como outros, na "SATURDAY NIGHT FEVER" dos bloguistas em meu terraco la nos (con)dominios do Regulo Duma, xingondo que conquistou Maputo.

MM
Egidio Vaz disse…
Caros amigos, muito obrigado pelos vossos comentários.
Gostaria de agradecer ao Martin de Sousa por ter sido o primeiro a comentar, e acima de tudo, por ter me alertado ao pessimismo extremo que me caracteriza. De facto Martin, tenho motivos bastantes para tal.
Temos em Moçambique um estado capturado e um Governo doente que vive a mercê dos impulsos reanimadores do Partido Frelimo. Isso, por um lado.
Por outro, temos uma sociedade "fardada"(civil, como gostam de ser conhecidos)que se apoderou da agenda do Governo. Essa sociedade juntamente com o Estado, mataram o cidadão: são por isso incapazes de engravidar a Frelimo. Se o fizerem será um incesto. E poderá nascer um cidadão com síndroma de down (nomalia genética conhecida cientificamente como trissomia do cromossomo 21).
Temos por outro uma grande massa, o dito povo, que sofre as consequencias disso. Em cada um dos actores do momento, existe uma força centrífuga, que tenta romper o cerco. Para os partidos da oposição, essa força já deixou de ser centrífuga para tomar a forma de um vulcão em actividade. As constantes deserções, denúncias de falta da democracia interna e cisões, são para isso, as provas inequívocas. Para a Frelimo, essa força centrífuga é controlada devido ao poder centrípeto das decisões tomadas. O núcleo dirigente consegue negociar com sucesso os vários interesses de várias forças e assim manter sob controlo qualquer roptura. E, aqui está o cerne. Essa negociação é feita psacrificando o Poder do Estado, que aliás, já sob o cativeiro.
Se tiver atenção, verá que no texto digo que o único "macho"capaz de engravidar a Frelimo será o tempo. recorde-se também que teria dito ainda no texto que esta democracia não está a amadurecer mas sim amarelar. Não sei bem de que lado virá. Mas sei que o tempo está se encarregando de treinar esse macho. Voltarei ao assunto.

Caro Muthisse, a Frelimo tem sim grandes responsabilidades. Pelo menos eu, não conhecçonenhum outro Governo a não ser o da Frelimo que, desde 1975 tem o país nas suas rédeas. Esse país está assim (bem, melhor, mau, pior como queira)por obra da Frelimo. A educação de que falas foi moldada pela Frelimo. É FRELIMO que tem responsabilidade política sobre o estado da nação. Irá comigo concordar nesse aspecto.
Eng. Chire,Policarpo,
Muito obrigado pelo encorajamento.
Estamos juntos.
Egidio Vaz disse…
Muito obrigado Milton pelo encorajamento.
Estamos juntos.
E.
Anónimo disse…
Meu amigo Milton Machel,

gostei do termo "fantasma politico"...mas como bem podes ver ainda estou bem vivo e,gracas a Deus, saudavel.

Andei trabalhando fora do pais desde 2004. Essa e a razao principal do meu "sumico".

Milton, observador atento que es deves ja ter observado que o MDM nao tem nada que ver com o PCN. Nao e uma versao renovada do PCN. Isso e visivel no discurso poolitico e na forma de estar e fazer politica. Mesmo que tivesse, sabes que eu ja tinha deixado o PCN em 1995, quando "se uniram" a Renamo.

Eu (ainda) nao faco parte do MDM. Sem querer dizer que desta agua nao beberei, neste momento nao tenho planos de fazer parte (activa) de nenhum projecto politico. E isso nao significa deixar de ser CIDADAO ATENTO E INTERVENTIVO como sempre fui.

Pergunte ao Mano Egidio, quantas noites temos perdido em debates acesos e bem quentes.

Abracao a todos

Inacio Chire
Júlio Mutisse disse…
Inácio, com o Egídio é impossível ter um debate que não seja "aceso e bem quente" mesmo que o assunto sejam os amendoins de Nampula.

Egídio, reitero o meu ponto de vista de que a educação/escolarização são a base para o aparecimento de uma verdadeira cidadania.

Tens razão, há 34 anos que quem dirige os destinos da nação é a Frelimo. O responsável pelas políticas educativas é a Frelimo e... muito mais.

A massa intelectual ou escolarizada é minoritária, urbana e elitista como diz o Martin, mas não é ou não devia ser apática, inútil ou hibernada... essa massa deveria ser o embrião para este projecto de cidadania que almejamos. Entendo que essa massa não pode ser inútil como semen ejaculado depois de uma masturbação.

Já não somos tão poucos assim Egídio. Que papel reservas a esta fornada de jovens que se formam nas mais diversas universidades; podem ou não almejar a ter virilidade para engravidar a Frelimo? Acreditas ou não que esta juventude pode forçar mudanças de visão ao mais diverso nível, até para acomodar os seus interesses de "classe"?
Egidio Vaz disse…
Muthisse, acredito no ponto último do teu comentário; o parágrafo com o qual terminas. E, no fundo, andamos na mesma linha de pensamento. Só que enquanto eu estou no apeadeiro, você já subiu o comboio. E eu estou a espera de uma carruagem que ainda não passou: o tempo. E para os políticos sérios, a primeira coisa que afazem antes de se lançarem a qualquer empreendimento é analisar o tempo e de acordo com ele definir acções: Dois exemplos: Sarah Palin a ex-Governdora de Alaska que acaba de se demitir ao cargo. A imprensa americana vaticina que é porque ela quer concorrer a candidatura dos republicanos às proximas presidenciais. A ser verdade, é uma burrice, aliás como sempre foi, quando falou com DJs canadianos por duas horas, pensando que estava a falar com Nicolas Sarkozy, Presidente da França! O tempo irá corroer ainda mais a sua imagem, pois por hora, não tem nenhum palanque! E chegará as primárias bem partida, com Mitt Romney ou Huckabee a lhe chamuscar severamente.
Maria Ferreira Leite (dois exemplos, duas mulheres; pura coincidência) actual Presidente do PSD; ex-ministra das finanças do Governo de Durão Barroso e depois Pedro Santana Lopes, tendo depois se demitido...Entre Barroso e ela passaram quatro congressos: o que elegeu Santana Lopes (2004); Luís Marques Mendes (2005); Luís Filipe Meneses (2007). E ela, nesse tempo todo esteve bem calma, atenta ao momento para lançar uma candidatura vitoriosa. Concorrer contra Santana Lopes parecia um trabalho muito fácil. Não fez pois o interesse dela não era apenas ganhar o Santana e outros concorrentes. Era sim lançar uma outra imagem. Pior, o PS estava ao rubro! A crise financeira abalou o Mundo e Portugal; o descontentamento era generalizado; os escândalos de altos dirigentes do PS eram (SAO) cada vez enormes e; tendo assim um PS sem moral e enfrentando severas críticas populares e da oposição; dentro do PS, nunca se vive momentos de coesão desde a "fuga"de Barroso para Bruxelas! Então, depois de Três homens definharem ante ao socratismo, veio a Ferreira Leite, mulher de ferro, com créditos firmados do Governo de Barroso, que deixou um governo saudável. Ganhou a presidência do PSD e, nas eleições europeias, venceu o PS. Está em alta e vitoriosa. Cálculo do TEMPO, foi o segredo amigo.
Entre nós, apenas se pensa no fim. E pouco nos meios. O tempo é um meio político muito importante. Apenas exige melhor leitura. Abraço amigo.
Julio Mutisse disse…
Egídio, estás a espera do porvir? Embarque neste comboio, vá atrás dos desafios em que acreditas. Ficar parado só os adia.
El Patriota disse…
Passei por aqui e simplesmente deixaste-me sem comentarios. Foste grande. Nao acho nenhum pessimismo em abordar as coisas como o fazes.

Para mim os teus escritos simplesmente fazem a radiografia do cenario socio-politico deste pais. Por isso tal como digo para o meu amigo Shirangano esta tem sido a forma como os homens de bem e de alma pura encontram para Exercer a cidadania e o patriotismo, embora muitas vezes isso provoque a ira dos poderosos e a furia dos verdugos.

Mas se isso acontecer nao te preucupes, porque tal como aconteceu aos grandes homens que alguma vez a humanidade pariu, a historia sempre te guardara um roda-pe e juntar-te-a ao lado dos maiores como JESUS DE NAZARE E SOCRATES DE ATENAS. lembra-te que estes foram escravos dos seus principios ate a morte na cruz e com a cicuta.

E, enquanto o sangue continuar a circular nas tuas veias, faca aquilo que te vai na alma. Podes contar com o meu apoio. Estou do teu lado. HASTA LA GLORIA SIEMPRE...
Anónimo disse…
Hey, Egídio, aja conforme a sua consciência. Os elogios costumam embriagar e a quem mais elogia do que faz o que incentiva que se faça. Engraçado é como és elogiado aqui e eras criticado quando te exposeste para que não fosses cúmplice. Porque será?
Egidio Vaz disse…
Muito obrigado caros colegas pelos comentários, críticas e encorajamentos.
Estamos juntos. Voltarei para falar sobre o ponto levantado pelo Muthisse, sobre se vale a penas embarcar num vagão que desconfio.
Abraços.
Anónimo disse…
Caro Egidio, a entrada de outros actors no cenário politico, parece a mim que aumentará o tapete do “malogrado” Afonso Dlhlakama ao invés de o retirarem por uma questão de estratégias eleitoral da bipolarização política assumida pelas duas forças e da qual o Dlhlakama não pretende perder o seu emprego


A ponte com o nome do ilustre presidente sera o dioxide de carbono para apagar o fogo que tanto ardeu. Agora assistimos elogios de feitos que justificam a atribuição dos nomes a tantas praças


A novella das prisões de membros do antigo governo deJoaquim Chissano tinha seus dias contados e apenas foi um efeito domino de pouca dura.


Idolatrar um líder não é um mal, mas o líde também n~ao pode aceitar exageros (bajuladores politicos) que assassinam cada vez mais a meritocracia do bom desempenho. Esta questão de atribuição de nomes é um péwrigo para a nossa identidade como moçambicanos. Corremos o risco de mudar o nome do país e ate de alguns rios


Quanto a definição, ela é bastante elucidative. Moçambique precisa de parir outros opositores mas sobretudo menos ambiciosos, digo isto porque acredito que devem mostrar serviço na base e nào apenas ambicionar a ponta vermelha para delapidarem os nossos recursos e fomentarem outras doenças (não deixa-parar). Acho que deveriamos banir alguns porque constituem o OPIO DO POVO na acepção de K. Marx. Quem é Miguel Mabote? OYAQUB SIBINDY, diz que pretende combater a pobreza mas em contrapartida fui ao congresso de Quelimane doar dinheiro, este já deu provas que nada entende na política!!! O PDD ficou para traz com o elitismo do seu líder, já nào se precisa destes líderes para nada. At Frelimo da provas de organização e valorização de quadros e os outros


Caro Vaz esta sociedade civil parece divorciada da propria sociedade! Vivem de Chibantes e balurdios de encontros. Hoje os Chiconhocas andam ai a profanar de protectores ou representantes de um grupo que não existe? Veja o perfil destes senhores? Craques a inventarem nomes que a sociedade desconhece. Esta sociedade cicil se encaixa muito bem nas ideias do Hegel (legitimadores do além)


O tornado MDM pode ter aceitação dada a sede de uma nova vaga de liderança e discurso político. Não acredito que não serão corruptos. MDM não pode ser uma nova empresa que quer alistar-se na Assembleia da Republica para agrupar alguns membros da Renamo que estão na tangente! Caro Egidio em política por vezes é preciso balancear o racional e o emocional por vezes sem calculos de tempo? Não existem formulas. Não Raul Domingos nunca foi e será alternativa e não teve as condições iguais ao do MDM emuito menos o seu líder teve o tal carisma que Simango nutre em alguns circulos. MDM esta a transformar-se numa legiào de um grupo que se acha com direito natural de ser membro (veja o perfil dos seus membros na cidade da Beira) os mais aconchegados ou os originários de tal.....


Será que temos intelectuais em moçambique com tantos ilustres formados a sairem de processos dúbios, orquestrados a corre corre. Intelectuais apenas nas celulas de alguns animais conseguem falar de si mas com tantas lacunas. Intelectuais com medo de procesos eleitorais. Em Moçambique é proíbido não votar (dedo sujo). Ka ka ka. Este é um país possivelFico na duvida se precisamos de engavidar ou abortar.


Aguardar pelo cidadao ou reforçar a ideia do pael do cidadão não como um crítico regionalista partidário, etnico mas um cidadão que entenda que a crítica não se resume apenas não concordar ou a falar mal mas sim a participar activamente na ediicação de um moçambique melhor, onde se valorize de facto o trabalho e o empenho
Anónimo disse…
Aguardo sua reaccao

Obrigado
Basilio Muhate disse…
Já tinhamos falado do teu post no bloggers after party and brainstrom last saturday, do you remember ?
Postaste para reflectirmos nem ...? Queres nos proporcionar retiros espirituais sobre a filosofia política Moçambicana ? Pretendes lançar o debate sobre a profecia da classe política nacional ... eu ainda estou a consumir a tua sábia profecia , e como os sábios levaram muitos séculos para dar razão à Galileu Galilei, que só foi absolvido, por incrivel que pareça, em 1999, séculos depois da sua morte, vamos continuando no nosso retiro "espiritual".

Parabéns pela abordagem e a Luta Continua !
Anónimo disse…
O "Tempo"...a cura de todos os males.

Mas o "Tempo es, tu eu e todos nos.. nos fazemos o "Tempo.

O " Tempo nao se faz por si proprio, portanto cabe a todos "engravidar" a Frelimo, o Estado, a Renamo, o MDM, a pobreza, a ignorancia a apatia e porque nao ao Gebuza.E isso quanto antes para que o "Tempo nao seja eterno.
Egidio Vaz disse…
Caro anónimo,
Gostei do comentário; cabe sim a todos nós, enrgavidar a Frelimo para que o tempo a que me refiro nao seja eterno. Eu nao disse que teriamos que esperar uma eternidade para que isso acontecesse. Apenas chamei atençao ou quis fazê-lo, para que os nossos políticos fossem mais perspicazes em alinhar as suas acçoes políticas ao tempo em que vivem.
Zacarias Isaac Mundiara disse…
Grande e bom amigo!

Interessante e belissima analise!
Lamento [lamentamos] ter que dizer que em Mocambique as coisas acontece de maneira tao flagrante e espetacula.Explico-me melhor:
Como ja afirmaste...o cenario politico mocambicano e extremamente turvo e medieval....ora, temos uma Frelimo colado ao Estado e ancorado nele;ora temos uma Renamo sem pernas para andar, ou ainda mutilada e hibernada, ora temos os ditos "partidos nao-armados" desarmados da politica, sem um projecto politico claro e em falencia tecnico-financeira;ora uma sociedade civil ancorada aos doadores, uma sociedade civil mafiosa a procura de money do homem branco; ora partidos paridos do ventre dos ja doentios partidinhos.Quem sera a salvacao da Governacao em Mocambique?

Abraco
Zacarias Isaac Mundiara

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