O tempo da comunicação


Prometi a Sura Rebelo que voltaria a reagir a nomeação da Senhora Klemens para o pelouro de recursos minerais e energia. Que não hajam dúvidas aqui. Foi surpreendente. Pelo SIM, pelo não, a senhora Klemens é um desvio padrão em termos de nomeações presidenciais e rompe com qualquer memória desta nação. Mas quero ser útil e conceder o benefício da dúvida como se confere à qualquer recém-nomeada. Porém, este benefício da dúvida é muito mais caro comparado a qualquer outro por mim dado. É que a Senhora Klemens não tem carreira, não tem obra e não tem profissão que se lhe conhece. Pode ter dinheiro, como qualquer outro endinheirado ou formaçao profissional. O seu breve CV é mesmo feito de duas folhas em branco e uma foto colorida. Não atrapalha a ninguém.
Em situações de crise como a nossa, uma nomeação presidencial deve comunicar o sentido da solução. Em algumas nações, esta nomeação era capaz de agitar mercados. No nosso caso, não temos nada para ser agitado. Está tudo de rastos.

Se existe alguma coisa que podemos aprender desta nomeação é a ineficácia da comunicação. As nomeações presidenciais têm cobertura constitucional. Mas em tempos modernos, tal provisão não é bastante para a legitimidade de qualquer decisão. Os ministros do Governo não são empregados do Presidente Nyusi. São seus colaboradores e prestam contas tanto a ele como ao povo inteiro. São servidores públicos. Por causa disso, qualquer que seja a decisão, carece de uma justificação convincente.

A Senhora Klemens de certeza é conhecida do Presidente da República. O PR é o pai da nação e o primeiro responsável na condução dos destinos do país. É possível que tenha visto algo especial nela; algum activo que acrescentará valor ao ministério, dentro de contexto de urgência em que nos encontramos. Ora, qual é este activo? O que ela acrescentará? O que nós cidadãos não sabemos da senhora Klemens que o PR tenha conhecimento e que seja útil para o ministério?

Em alguns países com sistemas de comunicação governamental eficazes, os comunicados de imprensa são autênticas teses em que se clarifica o potencial do nomeado, o que traz de novo e qual a nova visão que se pretende com a pessoa; as suas valências e com quem conta dentro do ministério.
Dizer apenas “no uso das competências que a Constituição da República me Confere, nomeio ABC” não funciona, principalmente em contextos de muita incerteza e suspeição em que nos encontramos. É preciso convencer o cidadão, dá-lo certezas de que o que está a fazer, as decisões que está a tomar são as mais acertadas e as pessoas as mais apropriadas para o momento.
A forma como se faz a comunicação – comunicação minimalista e legalista asséptica, diga-se - pode levantar mais problemas do que soluções, agitar mais pessoas e provocar rumores desnecessários e evitáveis, como aliás, se especula em relação a senhor Klemens.

A Senhora Klemens vai enfrentar um ministério que obviamente não conhece. As pessoas irão sorrir para ela, mas no fundo estarão a desdenhá-la, principalmente nos primeiros dias do seu mandato. Porquê? Porque ela é desconhecida, uma grande ilustre desconhecida e o Presidente não lhe deu o necessário “backup” no seu discurso de tomada de posse, muito menos em outros comunicados. Ela terá que desbravar sozinha a confiança que pretende e o engajamento necessário para o sucesso da sua missão (Isto significa muito tempo sem fazer nada de concreto).

Não nos convençam que não bastam as competências profissionais para ser dirigente ou merecer a confiança dos que nomeiam. Convençam-nos em relação as opções que tomam para que continuemos a trilhar juntos, em direcção ao sucesso que todos almejamos.

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