COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS: O que se pode aprender das visitas presidenciais?

UM memo aos comunicadores públicos

Antes de responder, uma pequena contextualização: o Presidente da República está a visitar os ministérios e entidades subordinadas para se inteirar sobre o funcionamento das mesmas, ver “in loco” o dia-a-dia das instituições e injectar um pouco de “veneno” de modo a que os planos e metas de governação sejam cumpridos. Acontece que até agora, o Presidente revoltou-se publicamente contra algumas práticas, decisões ou processos governativos ou de gestão.
A arraia de indignação gira “mais à esquerda mais à direita” ao tom e ao conteúdo que o PR deveria ou não dizer em público.

Não é meu interesse compulsar sobre o mérito da crítica ou da indignação (selectiva, diga-se) mas reflectir sobre como a comunicação institucional poderia ajudar na mitigação da negatividade com que as visitas presidenciais se associam.

O meu argumento é que cabe aos anfitriões construírem uma melhor narrativa sobre a sua instituição e urdir uma melhor estratégia de relações públicas para o evento. Para começar, sabemos todos da desgraça que é a comunicação nas instituições do governo, que está toda confiada aos órgãos de informação. Esses fazem a sua parte mas não é tudo. O que os comunicadores institucionais devem perceber é que os órgãos de informação guiam-se por valores diferentes dos comunicadores institucionais. Enquanto os órgãos de informações guiam-se pelo valor-noticia, os comunicadores institucionais têm a obrigação de (1) proteger a boa imagem das instituições e seus servidores; (2) veicular as mensagens apropriadas aos diversos públicos para engajá-los em suas actividades e (3) fortalecer a imagem institucional. Para os órgãos de informação, notícia é basicamente aquilo que os decisores não gostariam de publicar. O resto é para eles, relações públicas.

  • A primeira ilação que se pode tirar para os comunicadores institucionais é simples: se não controla a mensagem acabará por ser descontrolado pelos interesses estranhos aos seus objectivos. Não vi nenhum esforço antes, durante e depois da visita presidencial, um esforço de “seguimento” em relação aos aspectos críticos abordados e as acções correctivas a que as instituições se propõem realizar.  

O Presidente da República é um político que tem um compromisso por cumprir. Para tal, reuniu um governo e um conjunto de colaboradores para lhe ajudar a realizar o compromisso. Presume-se que o convite se tenha baseado na competência ou outro critério qualquer e que as pessoas tenham aceite, conscientes de que eram capazes de contribuir para a realização do compromisso. O governo possui planos e metas e meios para realizar tal compromisso. O que se esperava dos nomeados era a SUA CAPACIDADE E INTELECTO, COMPROMISSO E MOTIVAÇÃO para mobilizarem-se e poderem resolver os problemas do povo, articulando para tal, os instrumentos disponíveis ou mobilizando outros possíveis.  A visita de um Presidente da República representa uma oportunidade impar para a instituição visitada brilhar; mostrando estar caminho apontado e estar a implementar o que ficou acordado.

  • O que ficou na imprensa foi que o Presidente encontrou um grupo de indivíduos ávidos em receber orientações “concretas”; indivíduos derrotados pelas circunstâncias económicas actuais ou indivíduos esgotados em iniciativa; paralisados. 

Ora, era possível influenciar o pessimismo/otimismo do Presidente da República? Era sim possível. Era possível condicionar o seu discurso? Sim era. COMUNICAÇÃO.
Faltou a preparação antes, durante e depois da visita. Não vi nenhuma página da internet, rede social ou notícia nos jornais, rádio ou tv sobre preparativos dessa visita; estatísticas de desempenho dos últimos anos, ANTECIPAÇÃO dos problemas e sobre como as instituições estão a trabalhar para supera-las, etc. Chama-se isso em inglês PRE-EMPTING - Agir para evitar que aconteça um evento indesejado. A segunda ilação é igualmente simples: se não se prepara, será surpreendido desagradavelmente.
Os ministérios são produtores diários de factos, de notícias; fazedores de vitória; são vencedoras de batalha. São feitos de homens e mulheres que diariamente lutam para realizar o sonho dos moçambicanos. Bem e muitas vezes com dificuldades. Uma visita presidencial era também uma oportunidade para demonstrar esses homens e mulheres que se destacam com dedicação, resultados ou os que lideram pelo exemplo; uma oportunidade para promover e reconhecer e celebrar as boa-práticas e inscrevê-las como paradigmas que devem ser seguidas em toda função pública.


  • Não vi até agora, nenhuma componente de relações públicas consequente, que contrabalançasse a tendência pessimista que os públicos têm em relação a função pública. Adicionalmente, essas visitas seriam uma oportunidade soberana para resgatar o orgulho de ser servidor público e comunicar a heroicidade dos homens e mulheres que dedicam suas vidas para manter o estado funcional. É que HÁ PAÍS PARA LÁ DOS LADRÕES E MAUS GESTORES.
Tal como está, as visitas presidenciais acabam sendo sessões catárticas (sessões de catarse). É por isso que alguns sugerem que parem. Mas essa sugestão esconde também a incapacidade de ver nelas alguma oportunidade de comunicar algo positivo. Essa não é responsabilidade do Presidente da República. É responsabilidade dos visitados.

COMO FAZER ISSO? APRENDAM.

PS: reacções a esse memo podem ser enviadas para egidiovaz@egidiovaz.com

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