Sobre a tolerância civilizacional
Em 2005 o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou um conjunto de 10 cartoons sobre Muhamad (SAW) com o objectivo de "desafiar o exercício da liberdade de expressão na Dinamarca" que, segundo o jornal, já estava ameaçada pela crescente influência dos muçulmanos. Leiam o texto abaixo, que publiquei em 2006. As consequências disto foi que em todo mundo, o mundo muçulmano se levantou contra aquilo que eles acharam por insulto ao seu líder e profeta. Numa manifestação que teve lugar em Maputo, Bayano Valy meu amigo, foi violentamente agredido pelos seus correligionários quando tentava sensibilizar para que a manifestação não resvalasse para o insulto às autoridades, na violência contra património e na queima de bandeiras, entre outras manifestações que na altura estavam a ter lugar defronte da antiga sede do SAVANA. É preciso frisar que um dos cartoons aparecia Muhamad (SAW) com uma bomba na cabeça, deixando insinuar que o islão era religião do terror.
Quase dez anos depois, o Jornal satírico francês "Charlie Hebdo" é atacado e deste, 12 pessoas morreram sendo 10 jornalistas e 2 polícias. Foram franceses jihadistas a tomar a iniciativa, ao que tudo indica, membros da Al Qaida. Consultei brevemente o Wikipedia (nem sempre certo e profundo mas razoável para primeiras impressões) e encontrei a seguinte descrição sobre Charlie Hebdo: "ricamente ilustrado, ele publica crónicas e relatórios sobre a política, a economia e a sociedade francesas, mas também ocasionalmente jornalismo investigativo com a publicação de reportagens sobre o estrangeiro ou em áreas como as seitas, a extrema-direita, o Catolicismo, o Islamismo, o Judaísmo, a cultura, etc. O editorial se define como libertário, sendo um reduto muitíssimo diversificado do pensamento de esquerda não oficial. De acordo com Charb, a redacção do jornal Charlie Hebdo "reflecte todos os componentes da esquerda plural, e mesmo os abstencionistas". O editorial implica (satiriza) com o partido comunista francês, com o catolicismo conservador, a hierarquia judaica, e até mesmo com o terrorismo islâmico.
O que há de comum entre estes dois jornais?
Pelo menos é a "sanção" ou a resposta que tiveram dos fundamentalistas islâmicos. O jornal dinamarquês publicou a série dos cartoons e houve uma reacção global do mundo muçulmano com contornos políticos. Dez embaixadas dinamarquesas foram fechadas em países maioritariamente islâmicos, em protesto ao sucedido. O Charlie Hebdo publicou a sátira e teve a reação capital: dez dos seus jornalistas morreram.
O segundo elemento em comum é a atitude política, ou, a linha editorial dos dois jornais. Ambos gostam de "testar os limites da tolerância e da liberdade de expressão", através da colocação em forma da sátira e cartoons de temas sensíveis, que tolhem com as convicções ideológicas dos indivíduos. E, fazendo isso, esperam dos visados, tolerância. É aqui onde está o problema. Estes jornalistas esperam que das provocações que fazem às crenças civilizacionais ou ideológicas dos indivíduos resulte a tolerância, a indiferença ou uma reacção "civilizada". Fá-lo partindo do princípio de que todos que habitam no mundo e principalmente os visados são como eles, partilham o mesmo gineceu de valores e de instrução cultural e artística; mesma civilização, mesmo entendimento do queé LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Fá-lo ignorando o mundo perigoso em vivemos, ignorando as lições da história, ignorando o facto de que os jihadistas lêem o que publicam; ignorando o poder da ignorância, da manipulação política e do extremismo religioso e das prováveis implicações. Não é nem foi a primeira vez que o governo francês chamou atenção ao jornal para a necessidade de ponderar sobre as implicações das suas publicações. E não tardou.
Pelo menos é a "sanção" ou a resposta que tiveram dos fundamentalistas islâmicos. O jornal dinamarquês publicou a série dos cartoons e houve uma reacção global do mundo muçulmano com contornos políticos. Dez embaixadas dinamarquesas foram fechadas em países maioritariamente islâmicos, em protesto ao sucedido. O Charlie Hebdo publicou a sátira e teve a reação capital: dez dos seus jornalistas morreram.
O segundo elemento em comum é a atitude política, ou, a linha editorial dos dois jornais. Ambos gostam de "testar os limites da tolerância e da liberdade de expressão", através da colocação em forma da sátira e cartoons de temas sensíveis, que tolhem com as convicções ideológicas dos indivíduos. E, fazendo isso, esperam dos visados, tolerância. É aqui onde está o problema. Estes jornalistas esperam que das provocações que fazem às crenças civilizacionais ou ideológicas dos indivíduos resulte a tolerância, a indiferença ou uma reacção "civilizada". Fá-lo partindo do princípio de que todos que habitam no mundo e principalmente os visados são como eles, partilham o mesmo gineceu de valores e de instrução cultural e artística; mesma civilização, mesmo entendimento do queé LIBERDADE DE EXPRESSÃO. Fá-lo ignorando o mundo perigoso em vivemos, ignorando as lições da história, ignorando o facto de que os jihadistas lêem o que publicam; ignorando o poder da ignorância, da manipulação política e do extremismo religioso e das prováveis implicações. Não é nem foi a primeira vez que o governo francês chamou atenção ao jornal para a necessidade de ponderar sobre as implicações das suas publicações. E não tardou.
Um outro elemento que gostaria de levantar tem a ver com a forma como todos os que "choram" Charlie Hebdo o fazem. Fazem-no levando as suas qualidades de "testar e desafiar os limites da tolerância". E, para a cultura ocidental, isto é normal. Só que o problema real é que esta cultura ocidental ainda não chegou e em outras ocasiões é combatida em outras regiões do mundo; em outras civilizações, principalmente no mundo muçulmano. Ela é vista como errática na sua forma de viver e conviver com o outro e com o mundo metafísico. Esta cultura ocidental, que se pretende "universal" nos termos colocados pelos seus arautos, não é consensual, mesmo dentro das comunidades ocidentais. Em áfrica por exemplo, o ditado segundo o qual "quem provoca apanha" é demonstrador de que as pessoas são intolerantes para com as provocações, sejam elas de que formas forem apresentadas. No Islão, Muhamad (SAW) é uma figura venerada, o profeta de Deus, fonte de toda a sabedoria e da civilização islâmica. EM todo mundo islâmico, nenhum muçulmano deverá blasfemá-lo. Ora, se os próprios muçulmanos não o vulgarizam, estariam eles dispostos a tolerar que os outros o façam? Atenção, que o termo “blasfémia” é na óptica dos muçulmanos e não na dos ocidentais.
Para concluir com esta pequena interpelação, gostaria de dizer que a preservação da paz e segurança é responsabilidade de todos, incluindo dos jornalistas. A França está em alerta máximo porque uns terroristas não gostaram do que viram no jornal e decidiram matar os autores. O Charlie Hebdo contribuiu para a insegurança na França. O Jyllands-Posten contribuiu para a elevação da insegurança na Dinamarca. Um propagandista da praça contribuiu para a desestabilização dos moçambicanos quando veiculou informação inverídica, segundo a qual Dhlakama estava sitiado em Mangunde, fazendo com que o governo fosse visto como que estivesse para abater Dhlakama. Todso estes três partilham algo que é perigosa, a mesma que os seus algozes tem: IGNORÂNCIA. Os jornalistas da Jyllands-Posten e Charlie Hebdon são ignorantes porque tomam a sua civilização como paradigma, o centro em torno do qual gravitarão todas outras. Portanto, as medidas e os valores da tolerância serão medidos conforme os ditames da civilização ocidental. Tudo o que gravita fora desta órbita é barbárie. Os jihadistas são igualmente bárbaros ignorantes porque as razões que os levam a atacar os jornais são mais degradantes e delirantes, que vão até contra os ensinamentos do próprio Muhamad (SAW), que prega amor e compaixão para com os outros. Ambos estão ao mesmo nível de ignorância e barbárie, diferenciando-se nos pólos.
Para concluir com esta pequena interpelação, gostaria de dizer que a preservação da paz e segurança é responsabilidade de todos, incluindo dos jornalistas. A França está em alerta máximo porque uns terroristas não gostaram do que viram no jornal e decidiram matar os autores. O Charlie Hebdo contribuiu para a insegurança na França. O Jyllands-Posten contribuiu para a elevação da insegurança na Dinamarca. Um propagandista da praça contribuiu para a desestabilização dos moçambicanos quando veiculou informação inverídica, segundo a qual Dhlakama estava sitiado em Mangunde, fazendo com que o governo fosse visto como que estivesse para abater Dhlakama. Todso estes três partilham algo que é perigosa, a mesma que os seus algozes tem: IGNORÂNCIA. Os jornalistas da Jyllands-Posten e Charlie Hebdon são ignorantes porque tomam a sua civilização como paradigma, o centro em torno do qual gravitarão todas outras. Portanto, as medidas e os valores da tolerância serão medidos conforme os ditames da civilização ocidental. Tudo o que gravita fora desta órbita é barbárie. Os jihadistas são igualmente bárbaros ignorantes porque as razões que os levam a atacar os jornais são mais degradantes e delirantes, que vão até contra os ensinamentos do próprio Muhamad (SAW), que prega amor e compaixão para com os outros. Ambos estão ao mesmo nível de ignorância e barbárie, diferenciando-se nos pólos.
Crítica aos políticos
O presidente francês, tal como qualquer político europeu reagiu ao massacre dos jornalistas em termos muito nacionalistas, visando galvanizar o povo francês e do mundo em torno dos valores da "unidade contra o terrorismo", unidade nacional, valores da democracia e de liberdade de expressão. Pois bem, por mim, estes políticos gostam destes momentos para "somarem" pontos junto das suas constituências na medida em que neste momento todos se galvanizam em torno do sucedido e se irmanam acriticamente. Porém, o papel da França o combate ao terrorismo deve ser reanalisado para daí se tirarem as devidas ilações. O intervencionismo proteccionista e neocolonial da França em Áfricae no médio oriente é quando a mim, um assunto por discutir.
Bom final da semana.
O presidente francês, tal como qualquer político europeu reagiu ao massacre dos jornalistas em termos muito nacionalistas, visando galvanizar o povo francês e do mundo em torno dos valores da "unidade contra o terrorismo", unidade nacional, valores da democracia e de liberdade de expressão. Pois bem, por mim, estes políticos gostam destes momentos para "somarem" pontos junto das suas constituências na medida em que neste momento todos se galvanizam em torno do sucedido e se irmanam acriticamente. Porém, o papel da França o combate ao terrorismo deve ser reanalisado para daí se tirarem as devidas ilações. O intervencionismo proteccionista e neocolonial da França em Áfricae no médio oriente é quando a mim, um assunto por discutir.
Bom final da semana.
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