Puritanismo Português ou Neo-fascismo?

Ergueu-se uma placa publicitária contra a imigração e contra a Humanidade em Portugal. Bem em frente da Praça de Marquês de Pombal, um dístico dando "boa viagem" aos imigrantes, anuncia o início de uma campanha da autoria do PNR-Partido Nacional Renovador, contra a imigração em Portugal, "enquanto houver portugueses a viver na miséria".
No Parlamento, todas as bancadas repudiaram o conteúdo do dístico. Manuel Alegre, em representação do PS classificou o anúncio, um atentado contra as liberdades dos imigrantes e contra os portugueses também.
Num comunicado, o Alto Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas, Rui Marques que esta campanha é profundamente ofensiva, não só aos 400 mil imigrantes que diariamente constroem Portugal mas também para a memória histórica dos Portugueses. Igualmente o Governo Civil de Lisboa condenou o acto.
O Governo do PS repudiou e criticou o conteúdo do cartaz considerando-o igualmente ofensivo não só os imigrantes em Portugal como também os milhares de imigrantes portugueses espalhados no Mundo.
Por sua vez, a Procuradoria Geral da República, considera "não é ilícito o cartaz que o Partido Nacional Renovador (PNR) colocou em Lisboa, e que permanecerá no Marquês de Pombal durante um mês, com o slogan “Portugal aos portugueses. Basta de imigração, nacionalismo é solução", mas alerta que “acompanha as acções e declarações dos responsáveis pelo cartaz, no sentido de apurar se o mesmo poderá vir a constituir um veículo para a criação de condições que levem à prática de actos contra imigrantes”. E garante que “serão tomadas as medidas adequadas se vier a concluir-se que se está perante um incitamento ou encorajamento à discriminação punidos por lei”.
O Partido Nacional Renovador é um partidinho liderado por José Pinto Coelho, que granjeia em seu torno, um grupelho de jovens de ideologia neo-fascista e que vêem na expulsão de imigrantes, mas principalmente africanos, uma solução para os seus problemas sociais. É uma iniciativa que gira um pouco por toda a Europa dos 15. Entre outras medidas, o PNR quer que se acabe com os casamentos inter-raciais, alterar a lei da nacionalidade, expulsão de clandestinos e delinquentes, entre outras irracionalidades.
Na blogosfera, temos blogs como este, este e este como sendo portadores desta ideologia doentia e desesperada. Foram pessoas como essas que sozinhas conseguíram eleger via sms António de Oliveira Salazar o Grande Português no Programa Televisivo da RTP.

Comentários

Anónimo disse…
Egídio Vaz, olhe que por esta não esperava. Então o senhor qualifica os meus ideais de "doentios", e assevera ainda que eu contribui para a votação de Salazar como o Grande Português! Haja vergonha, pois num artigo mais abaixo escreve algo como isto; "a afirmação nacionalista do povo moçambicano" e no entanto, de forma paradoxal, insurge-se contra a essa mesma afirmação do nacionalismo do povo portug~es, considerando-a como doentia e deseperada.

Francamente, considerava-o, pelos debates que anteriormente mantivemos, como uma pessoa isenta, íntegra, e venho agora verificar que afinal encarrila pelo diapasão da esquerda simplista e redutora, essa esquerda manipuladora dos factos e da história, essa esquerda que instrumentaliza os meios de comunicação e que maquilhaa verdade.

Estou desiludido.
Anónimo disse…
Eu, como português que sou, fiquei chocado ao ver esta noticia na televisão e agora, ao esclarecer o sucedido nesta postagem. É vergonhoso para nós terem criado algo tão repugnante assim como decidirem deixar ficar o tal dito cartaz num local onde passam centenas de pessoas por dia. Com um pouco de sorte, a sociedade critica a atitude do Partido Nacional Renovador fazendo com que este nunca deixe de ser um “partidinho” como tu mesmo dizes. Já em relação ao Abel Salazar ter ganho nas votações para os grandes portugueses… Isso não deve ser levado totalmente a sério por vários motivos, por exemplo, Salazar teve um papel fundamental no desenvolvimento económico do nosso pais, mesmo promovendo a xenofobia e o isolamento do nosso pais na Europa, sendo que todos os grandes portugueses fizeram bem… e fizeram mal, resta-nos acordar com o que as votações ditaram (adulteradas ou não).

Parabéns pelo blog,
Vasco F. Ribeiro http://www.fenixbloodysociety.blogspot.com/
Anónimo disse…
Amigo Egidio Vaz,

subscrevo em absoluto a tua opinião sobre este assunto fétido.

Já é altura de se defender a constituição portuguesa que proíbe a criação de partidos fascistas/nacionalistas.

A PGR provou ser um autêntico bombo da festa só equiparável ao "palhaço" José Pinto Coelho.

Blogues como os que refere com cariz de extrema-direita são uma nódoa na nossa blogosfera. Apenas incitam ao ódio. As pessoas (eu disse pessoas?) que se revêem naquela corja só demonstram ter fraco humanismo e um puro racismo visceral.

É tempo de acabar com os que como eles não sabem viver numa comunidade aberta cultural e socialmente.

Metam-nos numa ilha isolada! E a todos os "máquinas zeros" só tenho uma coisa a dizer:

-Façam boa viagem!


Forte abraço Egidio

[[]]
Egidio Vaz disse…
Perdão ao Arqueofuturista.Principalmente pela inclusão numa lista que não o desejaria ficar. Erro é humano, mas não sei se vou a tempo de o alterar. Ora quanto aos nacionalismos, aqui vamos nós:
1. O nacionalismo a que me refiro quando me refiro ao Salazar é o nacionalismo político, a nossa luta pela autoderminação e de nos dispormos de nós próprios. O mesmo fizeram quando foi para derrubar Salazar ou mesmo antes, as tantas guerras sangrentas contra os "mouros" ou ainda contra as várias dinastias invasoras de Portugal. Pior, lutaram, usando todas as estratégias diplomáticas, para preservar as terras "descobertas" por Portugal no Ultramar! Desde Camões até Spinola tentaram honrar o Império Português. Factos não se negam. São factos.
Ora, o "novo" nacionalismo português não se compadece com a actual conjuntura política, económica e social. Não se trata de nacionalismo político. Trata-se isso sim de um nacionalismo exacerbado, alicerçado sobre crenças filosóficas que outrora foram capazes de gerar horror! Amar-se a si próprio não é problema. Amar a sua pátria também não é problema nenhum. Todavia, quando o amor a si próprio põe em perigo as liberdades dos outros, ai sim, temos um problema por resolver. Os portugueses estão onde estão, em parte graças à contribuição de toda humanidade. A imigração é um assunto que se deve combater-se é que seja necessário-não contra os imigrantes mas contra aqueles que assim o favorecem. Voltarei, porque vejo que tem mais um comentário.
Egidio Vaz disse…
Caro Teixeira,
Obrigado pelo apoio. O PNR, se calhar, ainda não mediu a dimensão das palavras que mandou escrever e publicar em tão grande painel. Custou dinheiro, e espero que não custe para além de palavras e debates civilizados. Mas temo que isto aconteça apenas em meios virtuais ou mesmo naqueles, mais ponderados. Tenho quase a certeza que, com um anúncio como aquele restarão poucas palavras a dizer, senão mesmo um "vai-te-embora a tua terra". Saia daqui, que esta terra não te pertence. Isto é que é perigoso. O Máquina Zero esgrime-se em "provar" que em Portugal, os criminosos são negros e muçulmanos. Esticando ainda mais, também prova que os maiores delinquentes que Portugal possui são os imigrantes. Quanto as políticas sociais, tenta ele chamar a atenção dos incautos que o Governo português privilegia mais os imigrantes do que os próprios portugueses. Olha,
A pobreza em Portugal existe NÃO por causa dos imigrantes, mas APESAR DELES.
Anónimo disse…
Exactamente Egidio.

O problema não está em amar o seu país. Quem poderá dizer por exemplo que eu não amo Portugal por ser de esquerda?

Só mesmo um fascista cinzento encapotado de nacionalista que luta pelos direitos dos trabalhadores. Mas quais trabalhadores? Apenas os brancos e com várias gerações de sangue português...

Esta gente do PNR e blogues como o máquina Zero não se olham ao espelho. A xenofobia e racismo que promovem só convence os oprimidos e frustrados das suas próprias ideias mesquinhas e pequeninas. Eles anulam-se a si próprios.

Contudo, vejo neles um foco de perigosidade pela demagogia e discurso barato que ostentam, e que como sabemos engana "muita" gente.

É necessário erradicar com este cancro de uma sociedade que deve ser equalitária, multicultural e democrática.

Estes cabeças rapados disfarçados de democratas só trazem opressão, e tem como objectivo o aniquilamento da sociedade de direito.

Abraço

[[]]
Stran disse…
Só posso dizer parabéns pelo post (se quiseres podes também publicá-lo no TUGA).

Quanto aos "nacionalistas" o que eu quero dizer é que por enquanto não passam de uma pequena minoria, de um simples espirro politico mas que tem de ser sempre combatido (ideologicamente) quando estamos em democracia. Essa é talvez o fardo mais pesado de uma democracia pois nunca poderemos estar descansados para que este tipo de doutrinas não voltem a ganhar força.
Egidio Vaz disse…
Caro Stran,
Obrigado pelo apoio. Irei faze-lo amanhã, num outro post, com outros desenvolvimentos.
Abraços
SurOeste disse…
Via-se vir, Egídio, na polémica de há uns meses. Então decidi não entrar naquel barco que cheirava a câmara de gas e desaparecer com o meu título de "esquerdoide"bem ganhado. Agora tens uma foto para a tua busca e captura nos blogs daqueles esportistas patriotas portugueses.
Lamento-o muito, de verdade.
João Feijó disse…
Uma vergonha Egídio, uma vergonha... Resto o consolo de se tratar de um grupo minoritário.

Ambanini
Anónimo disse…
Está um belo texto, sem dúvida, pelo menos no que diz respeito ao sentido de humor. O PNR não é neo-fascista, a eleição de Salazar não foi feita por SMS e a Europa já há muito que não é a Europa dos 15. Mas mesmo assim não se compara com essa pérola do comentador adolescente Fénix que não consegue distinguir o médico Abel Salazar do estadista António Oliveira Salazar.
Anónimo disse…
Hum... como é no seu pais? é muito diferente? Posso ir para lá roubar uns tantos e darem-me uma casa?

as vossas politicas são diferentes? São?
http://news.independent.co.uk/world/africa/article1868062.ece

Cumprimentos
João Feijó disse…
Perante a radicalização dos discursos (processo no qual também fui responsável), que em nada contribui para se esclarecer a questão, acho importante referir o seguinte:

1- Em qualquer parte do Mundo onde se viva uma crise económica e onde aumenta a competição pelo acesso aos recursos de poder (aos empregos, salários, habitação, enfim, ao consumo em geral) torna-se compreensível que emirjam discursos de exclusão do outro. Os grupos minoritários mas socialmente mais visíveis transformam-se, facilmente, em bodes expiatórios. Não interessa que tenham culpa ou não, o que importa é imaginar um inimigo externo para culpar dos males que nos afligem. Trata-se de um processo social observável, repito, em qualquer parte do Mundo e nem Portugal nem Moçambique constituem excepções.

2- Em Portugal existem dados concretos (estatísticas oficiais) que comprovem a existência de uma relação estreita entre imigração e criminalidade? Alguém pode afirmar seguramente que a maior parte dos indivíduos que cometem crimes e que estão nas cadeias são estrangeiros? Pois claro que não. Então porquê tanto alarmismo? Enquanto professor, a impressão que tenho é que os alunos menos disciplinados, menos aplicados, menos motivados e menos respeitadores são, precisamente, os alunos portugueses. Não estou com isto a dizer que todos os imigrantes são um exemplo para a sociedade, mas apenas que não podemos estabelecer uma relação clara entre aumento da imigração e aumento da criminalidade.

3- Quantos portugueses emigrantes existem? 3 milhões? 4 milhões? 5 milhões? Seguramente bem mais do que os cerca de 500.000 imigrantes residentes em Portugal. E se os países onde vivem os emigrantes portugueses (França, Suiça, Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, Inglaterra, EUA, Canadá, Brasil, Venezuela, África do Sul, Angola, Moçambique…) adoptassem políticas xenófobas em relação aos portugueses?

4- Qual é o nível de dependência dos sectores da restauração e da construção civil em relação à mão-de-obra imigrante? Existem muitos portugueses dispostos a realizar esses trabalhos pelos preços que se praticam em Portugal? Pois não, preferem fazê-lo na Suiça, na Alemanha ou no Luxemburgo onde são bem pagos.

5- Constituirá a imigração exclusivamente uma ameaça ou também uma oportunidade? Qual será o melhor passo para a promoção do respeito mútuo e da interculturalidade? construir muros ou pontes entre culturas? Porque não substituir o medo pela curiosidade?

6- Com estes discursos, que imagem se está a dar de Portugal no estrangeiro? Portugal é um país com uma tradição secular emigratória que, num presente cada vez mais globalizado, procura internacionalizar as empresas portuguesas e promover o aumento das exportações. Será que estes discursos e estas guerrinhas contribuem para a melhoria da imagem de Portugal no Mundo?
Egidio Vaz disse…
The Studio,
Quando me referi a Europa dos 15 queria exactamente dizer a Europa antes do alargamento. Sei sim que agora existe a União Europeia de 25 países. A Europa dos 15 corresponderia exactamente àquela, anterior à dos 25. Devia ter compreendiso, the studio.
Se o PNR é ou não neo-fascista, este é seu etendimento. Pelo menos eu assim o entendo e continuarei a fazê-lo.
Se a votação foi por sms, mms ligação teléfónica, etc... também menos interessa. O que estava a espera de si era que comentasse, ajudando-nos a melhor perceber o assunto em questão,através da crítica. Um abraço, que este lugar também é seu.
Egidio Vaz disse…
As suas questões são mui pertinentes. Irei pô-la num post. Obrigado João Feijó. Obrigado também Suroeste.
Anónimo disse…
Blogues como os que refere com cariz de extrema-direita são uma nódoa na nossa blogosfera.
Não sabia que a blogosfera tinha dono. Vá lá que não nasceu em moçambique senão era do povo moçambicano.
Egidio Vaz disse…
Seria interessante se o caro Rúben voltasse a carga para clarificar o seu comentário. Não o compreendo. Abraços
Anónimo disse…
O meu comentário não necessita de clarificação, o juízo de valor sobre que blogs é que tem ou não interesse para a blogsfera é que sim. No entanto não foi um comentário da sua autoria. Mas já agora aproveito para lhe esclarecer que a UE tem actualmente não 25 mas 27 estados membros, este ano a Bulgária e a Roménia passaram a fazer também parte.
Egidio Vaz disse…
Obrigado pela actualização. Minha distração. E que te parece este alargamento? Gostaria de coentar? Mesmo que seja em privado, agradecia a sua opinião.

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